Crítica – Free (Iggy Pop)

Iggy Pop é reconhecido pelo seu trabalho no rock. Em seu lançamento de 2016, Post Pop Depression, ele demonstrou isso mais claramente, ainda mais com a parceria com Josh Homme, frontman do Queens of The Stone Age. Pois bem, Iggy sempre ficou reconhecida por essa sua veia mais pesada e as guitarras bastante onipresentes nas suas narrativas musicais. Ele ainda fez parte de um período bastante interessante desse gênero, com uma experimentação forte em conjunto de David Bowie e Lou Reed. Mas, o artista agora olha para o passado. Ele observa que Bowie e Reed morreram, seus fiéis companheiros. Agora, o cantor está sozinho e quer apenas ‘ser livre’.

Por isso o título tão claro desse álbum ser esse. Aqui, Iggy observa o seu segundo nome – o Pop – para olhar e colocar dentro da sua música. Ele abraça mais a experimentação de gêneros para gerar um DNA próprio extremamente complexo. O jazz, o folk, o rock e até o rap se misturam aqui. Ele, reconhecido pelos timbres e até gritarias constantes nas faixas pelo início da carreira, busca olhar nos olhos de quem ouve e conversar. O que somos hoje em dia? Como estamos? Será que somos realmente livres nesse mundo? Até que ponto nossa união muda em algo?

Intrigante como Free é um CD deveras filosófico. É um trabalho claramente de uma reflexão profunda sobre a vida na terra e todos os acontecimentos. O final com “We Are The People”, “Do Not Go Gentle Into That Good Night” e “The Dawn” trazem uma voz mais soturna, pronta para olhar o passado e deixá-lo para trás. Nesse sentido, parece até um final de trajetória na música, na qual, a prióri, não é realmente o pensamento pelo artista americano. Contudo, ele parece querer estar fora do lugar depois de realizar tantas coisas similares e trazer situações parecidas. Em quase um testamento musical e até de vida para os ouvidos, Iggy repete que quer apenas ser livre.

Apesar disso, não espere uma obra altamente experimental e fora da realidade padrão dele. “Loves Missing”, por exemplo, traz quase algo bem claro de Pop, com as guitarras mais fortes e um ritmo mais leve, chegando até a ser dançante. Ele canta sobre o amor não estar mais pela sociedade, pelas pessoas, outro tema em que faz parte bem intrínseca dentro do trabalhado. A continuação com “Sonali” já traz uma explosão sonora para quem ouve, tentando entender aquela confusão. No contado dentro dos versos, o eu lírico busca fugir de uma realidade colocada por ele, de seguir na linha. Mas, lembre-se, ele apenas que ele quer ser livre.

Nesses caminhos complexos, é interessante como o álbum sai de um papel mais fortificado pelos instrumentos e pela voz puxada do cantor, para trazer a um universo cada vez mais distante. “James Bond” mostra bem isso, com a voz do vocalista sobressaindo ao baixo bem forte e a bateria surgindo lentamente. A letra falando sobre a mesma fuga de mundos e universos, utilizando a analogia do agente secreto que quer lutar contra todos. É um eterno ciclo dessa mesma filosofia de vida, colocada desde a capa. A lei do eterno retorno para os novos tempos, para um alguém que já viveu tanto.

Iggy Pop, assim como Bowie, parece premeditar o seu fim. Não necessariamente igual seu amigo, com a morte, mas sim observar que está em uma trajetória final de tudo. A música, anteriormente comum, ganha contornos complicados, assim como sua voz perdida e seus timbres cada vez mais em uma misturado de afinados e desafinados. Free é um trabalho para coroar tudo isso. Ele quer colocar isso como uma nova maneira de olhar a vida, de abrir seus olhos. No fim, após ter passado por tantas questões e por tanto na sua carreira, ele quer apenas mesmo é ser livre. Ao fim, ele – como é dito na canção final, “The Dawn” – está “esperando a queda de novo”.

Comentários

Cláudio Gabriel

É apaixonado por cinema, séries, música, quadrinhos e qualquer elemento da cultura pop que o faça feliz. Seu maior sonho é ver o Senta Aí sendo reconhecido... e acha que isso está mais próximo do que se espera.

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