Primeiras Impressões – Jungle Pilot

Em uma das cenas iniciais de Jungle Pilot, vemos o persongem Júlio César (Démick Lopes) descobrindo um pedaço de ouro em Serra Pelada. Esse fato já coloca um ponto inicial da narrativa de sucesso financeiro dele com seu irmão Maciel (Álamo Facó). Para além disso, todo o seu deslumbramento ao achar esse material também colocar em cheque a ambição do poder e do dinheiro. Essa, na qual acaba sendo o ponto final da vida de Maciel, morrendo em uma acidente transportando dinheiro. Julio, então, precisa continuar o legado e uma tentativa de não manchar a história da empresa criada por ambos. Isso tudo em meio a um caos de diversos interesses por detrás.

O olhar apurado da direção de Marcia Faria e Belisario Franca é algo primordial para a trama aqui. Nesse primeiro episódio, é possível ver como eles dois tentam trazer uma encenação bem particular e jogar os elementos desse universo. Ao mesmo tempo, ainda se interessam por fazer o público entender como essa história poderá chegar a outros lado e fatores – importante lembrar que é uma minissérie. Os closes bem fortes na boca e nos olhos dos personagens, por exemplo, ajudam a gerar essa tensão inerente e uma construção atmosférica do ambiente. Isso acaba por trazer uma expectativa cada vez maior do que virá.

Essas pequenas elucidações imagéticas também transformam a narrativa em um ambiente quase fantasmagórico. Os personagens parecem nunca propriamente estar vivendo aquelas situações, tentando entender aonde poderão estar. É quase impossível tentar entender suas ações, fato na qua fica mais claro para o deputado, em que busca seus interesses financeiros e pessoais, além da boa imagem midiática (a cena dos protestos é uma demonstração disso). Tudo caracterizado nesse lugar das florestas servem apenas para transfigurar um espaço cênico confuso, sem querer olhar julgamentos ou colocar lados. A história apenas demonstra o que quer ser.

Jungle Pilot, apesar disso, parece também mais intrigada com seus elementos visuais do que propriamente com uma construção dramática. Os acontecimentos são mais demorados e sempre parecem meio deslocados. É imprescindível salientar que o episódio analisado aqui é apenas o piloto, na qual esses elementos são presentes. Dali para frente, ainda por se tratar de uma obra menor em tamanho, podem ser modificados ou resolvidos. Contudo, no piloto, estamos bem mais de frente com toda uma questão simbólica dos pequenos elementos do quadro, porém o desenvolvimento de cada personagem demora a acontecer e a estar de frente. Isso pode acabar até sendo um fator de fuga do telespectador para continuar assistindo.

Nesse preceito, a linguagem visada pelo seriado é impactante e possui referências diversas. É possível observar ali elementos do faroeste e também de produções sobre floresta, como O Abraço da Serpente. Ao mesmo tempo que o crime também é vigente dentro da narrativa, quando certas situações noir aparecem de frente. Essa mistura de fatores serve para alavancar a uma história complexa, cheia de elementos e camadas internas. Todavia, serve também para por toda essa construção estética como prioritária.

O episódio piloto de Jungle Pilot apresenta elementos suficientes para gerar uma expectativa de continuidade dessa trama daqui para frente. Apesar de ser um capítulo mais lento, ele sabe bem ambientar esse universo para consolidá-lo dentro de debates inclusive contemporâneos sobre a Amazônia. No meio de todas essas questões, vemos uma série interessada em abrir seu leque para diversos pontos, sem saber muito bem para qual o telespectador poderá achar que vai. O fato é de tudo realmente estar em aberto e os episódios, daqui para frente, poderem ir para todos os lugares. Esse talvez seja o elemento mais perfeccionista e idealista dessa obra. Um elemento de criar o mistério para saber em qual terreno estamos pisando.

Comentários

Cláudio Gabriel

É apaixonado por cinema, séries, música, quadrinhos e qualquer elemento da cultura pop que o faça feliz. Seu maior sonho é ver o Senta Aí sendo reconhecido... e acha que isso está mais próximo do que se espera.

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