Crítica – Judy

Judy Garland foi, definitivamente, uma figura grandiosa ao longo de toda sua existência. Apesar de diversos percalços, esses desenvolvidos bastante na sua fase da infância, toda a persistência baseou-se em uma busca por algo maior. Talvez nem a própria atriz e cantora entendesse muito bem o que seria esse destino, porém seu brilho sempre ao aparecer fez dela um ser extremamente radiante nesse mundo. E isso desde seus primeiros momentos como persona pública, ao cantar “Somewhere over the rainbow” em O Mágico de Oz, de 1939. A vontade por algo maior não era apenas de Dorothy, a protagonista da história, mas também de Judy.

A partir disso, é possível observar Judy, filme dirigido por Rupert Goold, sob alguns pontos de vista. A trama busca bem menos essa melancolia do passado, tentando buscar suas fissuras no presente. Judy Garland (Renée Zellweger) tenta – de alguma forma – poder dar uma vida de maior tranquilidade para os filhos. Com isso, decide, no ano de 1968, ir para Londres se apresentar em diversas apresentações esgotadas. Enquanto no seu país natal, os Estados Unidos, era possível ver quase uma descrença dela no período, os britânicos a tratavam como rainha. Era a chance para conseguir alguma coisa visando o futuro.

Goold tem uma intenção clara de trabalhar os “se” da história dessa personagem. Por isso, tenta usar flashbacks sempre com o claro objetivo de olhar essa relação complexa com sua própria vida. Esse passado está sempre presente nas gravações de O Mágico de Oz, com assédios de produtores, sejam eles morais ou até com propósitos pedófilos. O maior problema é criar essa base como uma constante bem curta, presentes em cerca de 20 minutos das 2 horas de projeção. Todo esse peso de fissura da protagonista parece vir mais de um ambiente externo do que propriamente questões dramáticas desenvolvidas.

Esse traço capenga não fortalece bem toda a complexa e interessante relação de Judy com seus filhos. O ar de pureza sempre dado a esse tratamento, e desmantelado fortemente em uma outra próximo ao fim, geram o maior peso sentimental dessa história. Seria aquela relação com sua herança a única coisa que a prendesse em algo? Até que ponto vemos de uma verdade uma pessoa e não retratos dela mesmo? Ao buscar esses elementos, o cineasta causa uma encenação quase em atos, divididos sempre por momentos específicos das apresentações na capital inglesa. Esses períodos são os necessários para vermos esses questionamentos reverberarem do presente.

Falta ao longa, porém, uma verdadeira paixão ao filmar tudo isso. Judy Garland é uma pessoa extremamente famosa dentro da história cultural americana, por isso uma identificação prévia não é apenas suficiente a um envolvimento. Sempre com uma frieza ao buscar esse conto, digno de tantas outras biografias genéricas parecidas, existe um certo olhar bastante cansado em trazer um peso catártico para todo esse enredo. A escolha, por exemplo, de se pautar no presente poderia ser explorada nessa forte conexão própria de Judy com esse lado anterior. Entretanto, tudo parece simplesmente ser jogado, com aparições até de um par romântico (Finn Wittrock) sem nada a acrescentar.

Com tanto para se contar sobre essa história, há uma certa similaridade entre Judy e Bohemian Rhapsody. As duas, em uma pressa de buscar elementos que não tem e tentar emocionar através de relações passionais da audiência, causam quase um cansaço. Talvez faltasse a esse filme assumir um pouco mais seus ideias e não tentando trazer isso para sua grandiosa cena final, podendo gerar uma relação forte com qualquer um. Rupert Goold parece querer seguir quase uma cartilha genérica/usual, para uma figura que nada teve disso durante toda sua vida.

Esse texto faz parte da nossa cobertura do Festival do Rio 2019

Comentários

Cláudio Gabriel

É apaixonado por cinema, séries, música, quadrinhos e qualquer elemento da cultura pop que o faça feliz. Seu maior sonho é ver o Senta Aí sendo reconhecido... e acha que isso está mais próximo do que se espera.

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