Crítica – Normal People (1ª Temporada)

Garota conhece garoto, garota se apaixona por garoto. Muitas histórias de amor começam assim, as ficcionais não são diferentes. Nesse sentido, o início de Normal People, série irlandesa da Starzplay não é nada extraordinário, se apoiando até mesmo em estereótipos típicos do gênero, como a figura do “atleta” se envolvendo com a “CDF” sem amigos. Até aí, temos o cenário de 500 outras obras românticas.

Mas a série, baseado na obra de mesmo nome de Sally Rooney, não está interessado nesse “arroz com feijão” dos romances teen. Isso porque o encontro de Connel (Paul Mescal) e Marianne (Daisy Edgar Jones) na escola é só o ponto de partida na jornada desses dois. Ele atleta da escola. Popular, inteligente, mas tímido e com dificuldade em entender os próprios sentimentos. Já ela vem de família rica, inteligente e com língua afiada, porém se sentindo alienada pelas dinâmicas sociais do Ensino Médio. Isso além de problemas familiares, que resultam em uma pessoa um tanto isolada. Tudo muda no instante que ela se envolve com Connel, que frequenta a casa dela, já que a mãe dele trabalha como empregada lá.

O que começa com um romance juvenil se transforma, durante os 12 episódios da produção, em um olhar sobre as idas e vindas da vida dessa dupla, e os diferentes trajetos que cada um trilha. Em alguns momentos essa dinâmica está presente como casal, mas também por vezes separados. De uma forma ou de outra, sempre conectados, da escola até os últimos anos da universidade.

Para que a trama funcione, é mais do que essencial que tanto os protagonistas, tanto por conta própria quanto em conjunto, estejam bem estabelecidos. Para isso, a conexão entre os dois precisa ser a melhor possível e o seriado consegue. Logo nas primeiras sequências onde ambos interagem com mais calma, é possível perceber o fascínio que Connel exerce em Marianne, pelo modo como ela é filmada ao olhar para ele (com um close bem próximo e uma pequena profundidade de campo, indicando a compenetração dela naquele momento). Lenny Abrahamson e Hettie Macdonald, diretores da série, se preocupam imensamente em criar uma experiência sensorial e tátil do relacionamento. Closes em que mãos se entrelaçam, um plano mais demorado do sol batendo no rosto de alguém, as cenas de sexo que se focam mais nos modo como as partes envolvidas se olham e se tocam do que nos corpos em si, ou em sons que se subtraem quando os dois interagem. Esses elementos mostram o quanto o foco de um está no outro e vice versa.

O desenvolvimento dos personagens ao longo dos anos também agrega muito a experiência, já que é muito perceptível, tanto no visual, quanto em suas ações, suas grandes evoluções. Ou até pelo contrário, quais problemas que eles passam a ter de encarar, mas cujo os alicerces já tinham sido colocados no início da história. No princípio do amor dos dois, por exemplo, Connel se preocupa em ter seu relacionamento com Marianne descoberto pelos amigos, com medo da repercussão. O que soa um tanto bobo ganha ares dramáticos a partir do modo que ele reage a essa possibilidade, dando indícios de problemas psicológicos que terão repercussões sérias mais a frente.

Normal People leva o “normal” do título bem a sério. Não há grandes gestos dramáticos de amor, soluções fáceis ou protagonistas agindo de modo perfeito. Há até algumas situações que só ocorrem por pura burrice de um personagem ou outro – Connel especialmente -, só que tudo isso faz parte do charme da produção. Talvez um pouco de “normalidade” faça bem para nossos tempos.

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