Crítica – O Projeto Adam
Se tem uma coisa que ficou sempre marcada na carreira de Shawn Levy é a sua tentativa de misturar uma certa infância fantástica perdida junto com os problemas da vida adulta. De certa forma, funciona em alguns momentos, como Uma Noite no Museu, O Grande Mentiroso ou Os Estagiários. Entretanto, é como se todos os elementos desenvolvidos dentro dos longas precisassem apenas seguir essa trajetória. Eles não podem sair de algum enredo que apenas se repete e, mesmo quando tenta se divertir com a própria bobeira, acaba sendo não tão bem realizado. Se isso pareceu já escancarado em Free Guy, O Projeto Adam é apenas mais um passo nesse poço.
Interessante como ele tenta caminhar para um lado de quase um desprendimento narrativo. Dessa maneira, a dinâmica de pouco se importar com algumas “leis” básicas da ficção-científica ao conectar duas pessoas iguais de tempos diferentes é algo que funciona. A dinâmica de uma personalidade igual, mesmo que em fazes diferentes da existência também sobrevive dentro do enredo. O grande problema da direção é justamente tentar atrelar isso ao que a obra está querendo propor. No fim das contas, acaba sendo um grande conto dramático, porém que não consegue desenvolver o drama apresentado em tela em momento algum.
Por ser uma produção que quer se abrir tanto, não há um fio condutor ou qualquer coisa que encaixe. Em certos instantes, parece até mais uma mistura de cenas (oras boas, oras péssimas). Um grande exemplo disso é toda a conexão de Adam do presente (Walker Scobell) e do futuro (Ryan Reynolds) com a mãe Ellie (Jennifer Garner). É algo que está dentro do desenvolvimento de características e sentimentos dentro desses personagem, todavia que nunca é verdadeiramente explorado. Da mesma forma, toda a construção de sentimentalismo por parte do pai Louis (Mark Ruffalo) – e até mesmo sua aparição já no trecho findouro – fica extremamente mal explorado.
O Projeto Adam, na realidade, parece até nem bem saber o que quer ser em muitos momentos. Em certos períodos caminha para um coming of age, outra para uma desconstrução, romance, dramédia, comédia adolescente e ficção mais pura. Sem entender para onde quer levar o projeto, Levy sempre trabalha os protagonistas como perdidos no próprio conto. É algo que até consegue ser bem explorado na dinâmica deles (em quase nunca se entenderem), contudo que não consegue ser trabalhada em nada dentro dos acontecimentos do filme.
Talvez o longa aqui seja até menos uma “produção Netflix”. Há coisas abordadas pela própria narrativa que conseguem se sobressair. O maior problema é alternar isso com a eterna confusão. Mais do que apenas ideias, O Projeto Adam carece de um foco a ser seguido e no que quer verdadeiramente abordar com esses personagens. Mesmo com os tropeços, Shawn Levy consegue até manter a velha dinâmica da perda de uma infantilidade fantástica. No entanto, se isso – novamente -, poderia ser feito a alavancar as tramas e trazer algo a ser dito. No fim das contas, o projeto parece vazio, seja na forma ou no conteúdo.
