Crítica – Red: Crescer é uma fera

Viver é um ato de equilíbrio. Há de se balancear vários aspectos de nossas vidas a todo momento, trabalho, amor, hobbies e, claro, expectativas. Quem é você para si? Quem é você para os outros? Talvez um dos momentos mais críticos disso seja a puberdade, quando a infância começa a acabar, porém a maturidade ainda está bem distante,

Mas não é exatamente assim que a protagonista de Red: Crescer é Uma Fera pensa. Na abertura do longa, Mei Lee (Rosalin Chiang), ou Mei Mei, com 13 anos recém completados, se considera uma adulta, responsável e com a vida já encaminhada. Muito disso é fruto da necessidade de agradar à mãe, Ming (Sandra Oh), que ama muito filha, mas age de maneira superprotetora, o que tolhe por vezes as vontades da filha.

Uma descoberta íntima da jovem cria uma reviravolta na vida das duas, sendo o gatilho para uma antiga maldição familiar: todas as mulheres da família, ao atingirem certa idade, se transformam em um enorme panda-vermelho ao sentirem emoções muito intensas – e agora é a vez de Mei Mei lidar com essa realidade. Há um ritual que pode conter a fera em definitivo, mas ele só pode ser realizado num dia especifico, e, até lá, a jovem terá que conter seus sentimentos para evitar maiores complicações.

O que é mais fácil de falar do que de fazer, já que os sentimentos estão à flor da pele. É esse conceito que é muito trabalhado visualmente pela diretora Domee Shi. Se os cenários de Red são bem banais, um tanto apagados, isso só serve para contrastar o quanto a protagonista e seu grupo de amigas são vibrantes, com cores que os destacam dos demais, e isso ganha ainda mais força quando elas se expressam.

O filme se afasta do fotorrealismo presente em algumas produções recentes da Pixar, como Soul. Há uma estilização sutil, com visível influência do anime, especialmente, é claro, nos momentos que as emoções mais fortes entram em cena, com a expressividade do olhar sendo algo muito importante nessas horas. Se, formalmente, o longa lembra muito mais uma sitcom em alguns pontos, sendo um pouco chapado em suas composições, isso muda de figura quando Mei Mei não consegue, ou não quer, se conter.

Vale observar o filme também como um interessante ponto de virada na representação de jovens mulheres, já que o filme não se furta de abordar certos aspectos da puberdade pouco mostrados em animações. A metáfora mais óbvia – até pela cor titular – é a da menstruação, existe também a abordagem da descoberta sexual, com Mei Mei percebendo pela primeira vez uma atração mais profunda pelo sexo oposto, no que é uma das cenas mais engraçadas do filme, com ela furiosamente desenhando o alvo de seu afeto nas páginas de um caderno.

Uma pequena polêmica acompanhou o lançamento do filme, quando um crítico americano afirmou que Red – Crescer é uma fera seria uma obra específica demais, por ser tratar de uma jovem asiático-americana moradora do Canadá no início dos anos 2000. Não faz o menor sentido, mesmo com essa suposta especificidade, os temas ali presentes são universais, quem nunca se viu as voltas com os próprios sentimentos? Quem nunca teve medo de crescer?

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