Crítica – Os Inventados

Um filme ser “aberto” em sua narrativa é um desafio em vários sentidos. Primeiro que a audiência, de um modo geral, está acostumada com filmes mais “fechados”, por assim dizer, tudo cabe dentro do filme, tudo se encaixa e seus porquês são facilmente encontrados; segundo, pois requer certa habilidade dos condutores da trama, já que sustentar um filme unicamente em dúvidas – não suspense, somente dúvidas – não é a mais fácil das tarefas.

Até porque as dúvidas precisam ser interessantes, é perfeitamente possível habitar um mistério, mas é preciso que se produza o interesse em tal coisa. O longa argentino Os Inventados é cheio de mistérios, mas nenhum deles possui muita dimensão. No filme, somos introduzidos ao mundo de Lucas (Juan Grandinetti), um jovem que pode ser melhor definido como extremamente sem graça, branco, magrelo e de barba rala, se tivesse um pouco mais de estilo em seu figurino talvez pudesse pertencer alguma cena alternativa, cheia desses tipos, mas também não é o caso. Mesmo tímido e sem muita personalidade, tenta ser ator, participando de testes para comerciais e afins. Ele já atuou em algo no passado, que parece ter tido resultados desagradáveis para os envolvidos.

Decidido a tentar melhorar suas habilidades de atuação, se inscreve em um workshop um tanto inusitado, onde ele e mais quatro pessoas são ordenados por um professor a criarem um personagem e interpretá-los por cinco dias em um sítio isolado. Haverá comida para todos os dias, mas o professor não irá ficar com eles para “não romper o simulacro”. Tudo parece correr bem, até que um dos participantes some, sem deixar rastros, e o pior é que só Lucas lembra dele, com todos os outros participantes agindo como se nada estivesse acontecendo, e o mesmo acontece por todos os dias do processo, sempre com alguém sumindo.

Para o crédito dos três diretores e roteiristas de Os Inventados, Leo Basilico, Nicolás Longinotti e Pablo Rodríguez Pandolfi, esse elemento do sumiço é bem trabalhado, especialmente a partir do modo que o filme lida com o tempo, com cada dia se estendendo conforme cada pessoa some, tornando sua ausência mais presente nas cenas. Se o primeiro dia conta com um par de cenas, com somente uma delas mostrando todos os participantes, os seguintes são um pouco mais longos, nos permitindo sentir o sumiço juntamente com o protagonista.

Mas conforme a produção se aproxima da sua conclusão, a impressão de que as mentes por trás da obra não tinham uma ideia muito definida do que fazer com essa história se solidifica, já que nada é muito explorado além da angústia de Lucas com os desaparecimentos. A ideia de “se perder no personagem”, confusão entre o real e o inventado são levantadas mas nunca ganham força na narrativa.

Logo, Os Inventados se tornada nada menos do que uma experiência frustrante, pois o que começa de modo instigante, logo se mostra despido de qualquer perspectiva interessante sobre os eventos na tela. Não há plot twist final que salve algo assim.

Esse texto faz parte da nossa cobertura da Mostra de São Paulo 2021

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