Crítica – The Guilty

Era 2018 quando o dinamarquês Culpa, de Gustav Möller, saiu nos cinemas mundiais. O filme causou certo burburinho pela capacidade do cineasta de trabalhar toda a história em um único ambiente, após o protagonista da história, que atendia chamadas de emergência, receber uma ligação de uma mulher que estaria supostamente sendo sequestrada. Assim, o longa teve tanto reconhecimento mundial que chegou até próximo de ser indicado ao Oscar de Filme Internacional em 2019. Mas, como tudo que é produzido de forma minimamente curiosa, os Estados Unidos resolveram fazer uma refilmagem da obra pela Netflix. Essa produção, que sai agora em 2021, é The Guilty.

A ideia da produção é extremamente similar ao original nesse remake. Assim, Joe Baylor (Jake Gyllenhaal) é um policial que acabou sendo rebaixado por conta de um problema no meio do seu trabalho. Ele é designado para o escritório das chamadas telefônicas, com o objetivo de atender questões de emergência das mais diversas e variadas pessoas. Isso tudo acontece em meio a um dia que locais próximos a cidade em que ele está começam a pegar fogo. Em um desses momentos, ele recebe uma ligação de Emily (Riley Keough apenas por voz), que quer falar com seu filho. Mas logo depois percebe que ela está sequestrada e vai atrás de salvá-la.

Se comparmos as duas adaptações, existe algo curioso desde o início: a forma como o cineasta Antoine Fuqua dirige aqui é inteiramente diferente da versão dinamarquesa. Enquanto lá há uma busca muito maior em um certo estudo de personagem do protagonista (algo fortalecido pelos vários closes), aqui se vai atrás de uma certa pavimentação agressiva desse universo. Ou seja, tudo é capaz de fundamentar o caos, algo que também se penetra na narrativa desde a sequência inicial em que vemos o noticiário falando sobre o problema da queimada. Fuqua tem um controle completo da forma como esse elemento da tensão vai se construir.

Porém, é fato de que temos um personagem principal bem menos fortalecido em The Guilty. Obviamente que a produção não deixa de dar um enfoque na construção dos seus dramas pessoais – algo que vai aparecer com mais força do meio para o final -, porém que sempre estão pavimentado na relação com a mulher que ele quer salvar. Desse jeito, o grande elemento para fazer sentido essa conexão dos dramas acaba sendo um tanto quanto capenga. Em alguns instantes é possível perceber que nem o próprio longa sabe para qual caminho andar com os elementos que tem.

Mas é bem nítido e claro como Fuqua sabe comandar bem melhor a sua narrativa. O clima de tensão aqui está instalado desde sempre e nunca se perde, visto que o elemento frontal é realmente essa cidade que respira o clima de um medo por toda a parte. Até mesmo aqueles que são bons e protetores da lei (o filme transmite bem isso na conversa de Joe com uma criança) são capazes de trazer responsabilidade ou até mesmo uma ética no trabalho. É como se o caos estivesse tão dentro desse universo que estamos vendo apenas uma representação dele ali.

Longe de ser minimamente brilhante, é curioso como The Guilty consegue ser uma produção extremamente enérgica ao explorar os diversos microcosmos do seu DNA. Contudo, talvez falte um pouco mais de uma tentativa de buscar algo único por aqui em certos instantes, se baseando demais nos elementos que são trabalhados no filme original. Mas não apaga, em momento algum, toda a construção de um debate super complexo dentro de um longa que está buscando trabalhar o micro para o macro.

Esse texto faz parte da cobertura do Festival Internacional de Cinema de Toronto 2021

Comentários

Cláudio Gabriel

É apaixonado por cinema, séries, música, quadrinhos e qualquer elemento da cultura pop que o faça feliz. Seu maior sonho é ver o Senta Aí sendo reconhecido... e acha que isso está mais próximo do que se espera.

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