Crítica – Twisted Metal (Primeira Temporada)
O ano de 2023 está entre aqueles mais marcantes e que serão lembrados em termos de adaptações de jogos. No cinema, a maior bilheteria do ano, até o momento, é da animação Super Mario Bros. O Filme, com mais de US$ 1,359 bilhões. Já no mundo dos seriados, o ano iniciou com um hype e uma discussão gigantesca nas redes sociais sobre The Last of Us, adaptação do game de já enorme sucesso. Se em momentos anteriores os jogos como adpatação pareciam algo distante, difícil, hoje são cada vez mais fáceis – e melhores. Dentro disso, uma das transposições menos esperadas se tornou uma das grandes séries do ano. E, sim, estou falando de Twisted Metal.
Isso pode soar chocante até mesmo para os fãs do jogo original. Em sua essência, é uma obra sobre carros se batendo, se destruindo, e você tentando, ao máximo, sobreviver em meio ao caos. A produção ganhou destaque e apaixonados, especialmente pela sua jogabilidade frenética e pelos interessantes personagens que, em muitas ocasiões, não tinham nenhuma história. Bom, bastava para o seriado do Peacock seguir o mesmo caminho, certo? Errado. David Jaffe, um dos criadores do jogo e a mente por trás dessa adaptação, pensou diferente. Em vez de chegar no caminhão, atirar coisas e correr atrás de outros, talvez seja melhor voltar atrás e entender essas figuras.
Por isso, a primeira temporada de Twisted Metal apresenta John Doe (Anthony Mackie), um leiteiro, ou seja, alguém que busca suprimentos ou pedidos em algum lugar para levar para outros, em um mundo pós-apocalíptico. A maioria da população é muito pobre e as cidades se tornaram muros fechados. Quem vive pelas estradas corre um sério risco de morrer a qualquer encontro inesperado. Ele acaba se encontrando com Quiet (Stephanie Beatriz), uma mulher que perdeu seu parceiro do deserto por conta do policial Stone (Thomas Haden Church). Juntos, os dois vão atrás de um objeto pedido e da chance de entrarem em uma das cidades e viverem uma vida tranquila, a qual nunca tiveram.
É bem interessante como a forma de abordar todos os personagens é sempre para construir o universo de alguma maneira. Ao longo dos 10 episódios, a solidificação desse mundo meio confuso e meio lúdico gera um papel sempre curioso por parte da direção. Claro que não há um olhar mais complexo ou crítico perante tudo, e sim satírico. Desse jeito, talvez a maior representação do que a obra quer trabalhar seja Sweet Tooth (em voz por Will Arnett e em corpo por Joe Seanoa). Um homem aleatório que adora a morte. Muitas vezes, parece jogado em meio a uma trama principal da dupla citada anteriormente que convive com os próprios traumas. Enquanto a produção quer olhar para o drama, também tem um profundo interesse em semear os elementos do game original.
Essa profusão quase experimental de acontecimentos também gera uma intenso dinamismo. Nunca o público realmente vai saber o que pode acontecer. Apesar de abraçar algo procedural em boa parte da temporada – em que o episódio se resolve por si só com algum “vilão” -, é justamente nesse formato caótico que a série aposta para gerar interesse. E funciona. Nada fica realmente claro e é até difícil saber para quem torcer ou gostar, visto que a amoralidade é um elemento central também. Ou seja, não há regras, não há futuro, apenas a morte. E um pouco de risada, no meio disso.
A primeira temporada de Twisted Metal sabe abarcar bem o que uma adaptação precisa ter, ou seja, algo novo, um refresco, uma possibilidade de vislumbrar esse mundo de outra maneira. Ao mesmo tempo que também abraça o ponto chave que torna o jogo original tão único e viciante: seus caos. Só que, por aqui, o caos está diretamente conectado a essa forma de entender o mundo como incapaz de se controlar. Se nenhuma das figuras pode ter controle e nem mesmo esse universo, o que fazer? Ir junto com o absurdo. E é isso que o seriado sabe fazer, como poucos.