Crítica – Viúva das Sombras

O subgênero do found footage, depois do início mais comercialmente estrondoso com A Bruxa de Blair, em 1999, se tornou bastante corriqueiro. Para além de todo o marketing em cima de produções do tipo, poucos cineastas realmente souberam utilizar a ideia de uma câmera encontrada ou de gravações feitas em tempo real. O destaque positivo fica por conta, principalmente, de A Visita, de 2015, e o remake de A Bruxa de Blair, de 2016. Apesar disso, e do pouco sucesso comercial, tudo aquilo que pode vir a dar dinheiro é feito sob exaustão. Não há receio algum em repetir uma fórmula mesmo quando ela já passou dos limites. E é um pouco desse caminho que Viúva das Sombras segue.

Mesmo assim, a história não segue diretamente a ideia do found footage, visto que vemos um programa televisivo sendo gravado. Na trama, baseada em eventos reais, um grupo de voluntários entra em uma floresta estranha para poder resgatar um adolescente que desapareceu. O local, todavia, já é conhecido pelo sumiço de pessoas há pelo menos 30 anos e apenas poucos corpos foram encontrados – todos eles, nus. Porém, quando os voluntários estão na floresta, a comunicação é interrompida sem mais nem menos e, a partir daí, fatos estranhos e sobrenaturais começam a acontecer. Tudo está relacionado bastante a uma antiga lenda sobre uma viúva atormentada.

Definitivamente, Viúva das Sombras não consegue conceber bem seu universo a ponto de poder desenvolvê-lo de forma mais categórica posteriormente. No início, acompanhamos o trajeto dos personagens por si só, no entanto são poucas as menções ao perigo onírico que está dentro da floresta. Do mesmo modo, toda a ideia da viúva se torna extremamente boba, já que acaba sendo pouquíssimo mencionada antes de realmente entrar de cabeça no longa. Assim, sem uma conexão muito clara com os protagonistas – que são diversos – e também sem uma curiosidade maior por esse cosmo criado, parecemos ver uma trabalho que está em busca apenas de reciclar situações do gênero. E isso sobra dentro do filme.

É a primeira direção da carreira de Ivan Minin, que se mostra bastante perdido sobre o estilo visual que quer seguir dentro da narrativa. Inicialmente, toda a ideia mais documental e até bem fria sobre o trabalho dos voluntários é um esboço curioso, que poderia servir até dentro de um debate moral a ser estabelecido sobre salvar ou não as pessoas. Apesar disso, essa relação é bastante esquecida, dando espaço para um lado mais “cru” da câmera encontrada, com viradas rápidas para causar o susto, por exemplo. Aliás, uma sequência já próxima ao fim envolvendo uma espécie de possessão mistura de forma constante esses elementos, ilustrando bem como Minin parecia não ter um foco claro.

Os comparativos com A Bruxa de Blair (o original) são frequentes, visto que há cenas até idênticas, como os bonecos presos em árvores na floresta, além de pessoas viradas para a parede quando a câmera chega próximo. O filme não tem sua própria identidade. Assim, como dito anteriormente, busca apenas reciclar elementos que já deram certo e a qual estamos acostumados a nos identificar.

Nesse poço bem raso, sobra apenas o lado mais visual que a obra impõe sobre com relação ao caminho sobrenatural. O cineasta parece querer ousar ainda mais nisso, porém também dá pouco tempo e espaço para situações nesse sentido acontecerem. Quando cenas mais diretas acontecem, especialmente as que mostram alguma transformação ou uma figura estranha, tudo se resolve de forma muito rápida, sem dar tempo para uma característica narrativa essencial a esse cosmo.

Dessa maneira, Viúva das Sombras é um filme que apenas quer olhar ao seu passado e repetir. Ivan Minin até tem ideias a serem trabalhadas dentro do escopo, mas prefere deixar isso de lado para seguir um caminho mais clichê e comum. Não que isso seja problema, só poderia ter mais uma individualidade em que a obra buscasse. Enquanto ao início vemos uma preparação de uma espécie de programa de TV, ao fim parecemos estar feito um novo remake de algum Atividade Paranormal. Sem elementos que componham algo sólido, o longa não pisa em ovos, e segue o rumo do esquecimento.

Comentários

Cláudio Gabriel

É apaixonado por cinema, séries, música, quadrinhos e qualquer elemento da cultura pop que o faça feliz. Seu maior sonho é ver o Senta Aí sendo reconhecido... e acha que isso está mais próximo do que se espera.

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