Grown-ish: O espelho da juventude atual

No final dos anos 90, era possível encontrar na televisão diversos programas sobre adolescentes. Adolescentes que lutavam contra monstros, adolescentes que não falavam como adolescentes, adolescentes ricos com vidas sociais tumultuadas e, principalmente, adolescentes que deixavam de ser adolescentes. Embora muitos seriados juvenis abordem o início da vida adulta após o fim do ensino médio, poucos são aqueles que realmente focam nisso, como FelicityGreek. Em meio aos mirabolantes dramas teen que estão no ar na TV atualmente, surge GROWNISH. 

Spin-off de Black-ish, comédia sobre a relação de uma família afro-americana com suas raízes e a sociedade em que vivem, essa comédia foca na filha mais velha dos Johnson, Zoey, que vai para a faculdade de Califórnia estudar Moda. Com uma personalidade descolada, Zoey caminhou pela vida sem grandes preocupações ou ansiedades, mas seu primeiro ano na universidade mostra que ela não está tão preparada para a vida como ela achava.

Por se tratar de uma produção derivada, é de se esperar que o espectador que não está familiarizado com a protagonista demore para entender os maneirismos da personagem. Mas o seriado não deixa isso acontecer. Frequentemente, Zoey quebra a quarta parede para dialogar com o público enquanto conta sua história, deixando a narrativa cada vez mais informal e divertida. Yara Shahidi mostra, poucos minutos após do piloto, que é mais do que capaz de segurar um título sozinha, com carisma e humor necessário para fazer com que as ações de sua Zoey não sejam só compreendidas, mas também apoiadas. (Não sempre, claro. Todo mundo faz besteira quando é jovem e aqui não é diferente).

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Toda geração acaba sendo refletida em algum produto de sua época. Os jovens do anos 90 tiveram suas experiências exibidas com exagero em séries como Dawson’s Creek Buffy, os anos 2000 foram dominados por jovens descolados e abastados de títulos como The O.C, One Tree Hill e Gossip Girl. Portanto, não é exagero dizer que uma das melhores representações da juventude atual está em Grown-ish. O roteiro mostra como a Geração Z funciona sem se basear no didatismo exagero ou na caricatura, sejam falando dos influencers digitais, os ativistas sociais de internet ou celebridades do momento. Quando eles conversam, soa natural, quando aprendem as famosas “lições de vida”, não é através de moralismo maniqueísta ou fórmulas batidas. Embora os temas (como colorismo, relacionamentos, redes sociais, início da vida profissional) sejam tratados com leveza e comicidade, nada é mastigado ou diluído.

Além disso, é notável como a diversidade, ponto tão comentado e cobrado nas produções atuais, funciona aqui de maneira orgânica. O elenco coadjuvante é tão importante para que o seriado seja bem-sucedido quanto Shahidi. Luke Sabbat não traz nada surpreendente para seu Luca, potencial interesse amoroso de Zoey, mas seu carisma e a química com a protagonista fazem com que a torcida para o casal seja inevitável. A dupla musical Chloe x Halle também mostra que seus talentos não se resume só a música (aliás, é delas a música de abertura), entregando duas personagens essenciais para o grupo de amigos que acaba sendo o core do seriado.

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Ainda que em certos momentos perca tempo demais com os muitos interesses românticos da personagem principal (só nos primeiros 6 episódios, há 3 personagens interessados na moça), GROWNISH é um dos melhores seriados juvenis na televisão atualmente. Ele não só discute temas essenciais à sua identidade própria como racismo e a solidão da mulher negra de maneira coerente como também é um dos melhores retratos da Geração Z presentes. Não é difícil imaginar que, daqui a alguns anos, entre para o Hall da Fama das séries teens, marcando épocas.

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