Homem-Aranha no Aranhaverso é um filme único, mas cheio de problemas

Existe um lado diferente e único dentro de Homem-Aranha no Aranhaverso: sua animação. A busca por uma estética baseada em quadrinhos, com diversos balões de pensamento, troca de quadros e a utilização metalinguística da nona arte conferem um universo muito particular ao longa. A história do filme acaba se tornando sempre renegada para que as referências e um sentido interno seja vangloriado. Uma decisão extremamente infeliz, já que a própria produção dialoga sobre o sentido de ser herói, algo que não era visto dentro do gênero há algum tempo.

Na trama, acompanhamos Miles Morales (Shameik Moore), um jovem negro morador do Brooklyn que acaba se tornando o Homem-Aranha com a morte de Peter Parker (Jake Johnson), precisando continuar esse legado. Entretanto, no meio dessa questão moral, o Rei do Crime (Liev Schreiber) acaba criando uma máquina interdimensional, na qual colide os mais diversos universos e traz alguns outros homens-aranha para a Terra. Ele precisa, então, saber como salvar a todos, além de levar de volta seus companheiros para os respectivos planetas.

O fato dessa produção ser uma animação consegue justificar e potencializar diversos elementos presentes, desde sempre, nas histórias do aracnídeo. Eles podem ser tratados como comédia, através da dificuldade em saber utilizar as teias, ou uma situação mais dramática, pela relação de constante julgamento da sociedade. Em alguns momentos, o longa consegue gerar sempre essa construção maior de um mundo, simplesmente pelo trabalho da animação de cartum, caminhando para até uma fantasia, algo bem expresso no grande clímax da obra.

Os diretores Bob Persichetti, Peter Ramsey e Rodney Rothman sabem muito bem utilizar o que tem em mãos dentro desse trabalho de animação. A brincadeira com as maneiras de animar o longa para cada um dos personagens advindos de outras terras – representandos principalmente por Peni Parker (Kimiko Glenn) e Homem-Aranha Noir (Nicolas Cage). A convergência de todas as animações geram batalhas extremamente fluídas, sempre objetivando momentos menores em vez de lutas maiores ou até alguns elementos cênicos, como o bastão do Porco Aranha (John Mulaney), para servir de piada nessas circunstâncias.

O roteiro é o maior ponto negativo. Apesar de bem construído para a formação de uma tensão ante o antagonista, há uma problemática em situações pouco desenvolvidas e em uma trama que se incha de forma meteórica, por causa da absorção desses novos personagens. Todos os outros homens-aranha são desenvolvidos de maneira rasa, algo servindo, novamente, para uma comicidade da obra (sempre realizando a sequência de um quadrinho mostrando essas histórias de origem), porém sem trazer nenhum peso narrativo para a construção dos mesmos. Tudo se torna raso e até enfadonho quando a produção busca estabelecer a existência de situações dramáticas entre todos. Inclusive, no fim, parece simplesmente cansativo, sem uma real composição para algo maior.

Homem-Aranha no Aranhaverso é um filme incrível quando consegue estabelecer uma linguagem totalmente própria, dentro da concepção de sua animação. Algumas relações de personagens, principalmente de Morales com sua família, conseguem trazer algo catártico, especialmente em uma revelação sobre seu tio. Todavia, com exceção de Peter e Gwen Stacy (Hailee Steinfeld), existe um inchaço que transforma o longa em algo bem menos épico do que poderia ter sido. É sim o bom início de um universo, mas algo foi perdido no caminho para trazer um longa um pouco apressado e de escalas bem menores do que poderiam ter sido.

Comentários

Cláudio Gabriel

É apaixonado por cinema, séries, música, quadrinhos e qualquer elemento da cultura pop que o faça feliz. Seu maior sonho é ver o Senta Aí sendo reconhecido... e acha que isso está mais próximo do que se espera.

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