“O Me Perdoe surgiu a partir da pergunta: ‘e se o criador fosse uma artista plástica de 14 anos’?”, conta Gabriel Dantas sobre nova HQ
“E se o criador fosse uma artista plástica de 14 anos com os sentimentos e hormônios a flor da pele?”. É assim que o quadrinista Gabriel Dantas, que começou a sua carreira com zines em 2016 e ganhou maior sucesso na internet com suas tiras no Instagram, define seu novo trabalho, Me Perdoe por te Decepcionar pela Décima Vez. O trabalho contém o mesmo tom irônico e, ao mesmo tempo, contemplativo de suas outras obras. Na história, como o mesmo diz, acompanhamos a vida de uma criadora do mundo de 14 anos, cheia de sonhos, dificuldades e aspirações.
Dantas começa contando sobre essa “heroína”, utilizando a imagem totalmente pura e de uma aparência que não apresenta nenhum mal. Contudo, assim como na história humana, o mal acaba aparecendo de uma forma ou de outra. O autor, assim, através de pequenas tiras e elementos ainda mais impactantes – que pediu para não contarmos -, utiliza uma abordagem crítica e até bastante direta. “Apesar de não ter relação direta, o quadrinho tem seus momentos de tensão, assim como o que tem acontecido no Brasil e no mundo”, diz o autor em entrevista ao Senta Aí. “Quando se trata de desgraça, não há como não relacionar”.
Ainda há, dentro da histórias, diversas questões remetendo a literatura da bíblia cristã. Entretanto, todo o lado religioso e da fé, não fica apenas nesse sentido. É possível ver um pouco de um debate sobre crença, apesar de estar mais em um segundo plano. O que está em voga, todavia, é mais sobre uma personagem criadora desse espaço novo, no qual teremos o contato. Suas complexidades nesse universo e como estar no papel de criadora. A arte tem uma relação profunda nesse sentido, quase como se Dantas estivesse discutindo seu próprio ofício – de certa forma. Mas, como o mesmo disse, a história surgiu sobre o questionamento “e se o criador fosse uma artista plástica de 14 anos?”
Me Perdoe por te Decepcionar pela Décima Vez ainda trabalha elementos de uma mescla na linguagem. Acompanhamos uma história contínua e, ao mesmo tempo, isso está dividido em diversas tiras e outros enredos em conjunto. É uma mescla que traz diversas induções e pensamentos perante ao público. O artista, porém não vê muitas diferenças.
“No tocante à linguagem, não vejo diferença. Todavia, nas tiras os leitores esperam uma informação mais rápida, a narrativa tem de ser condensada. Já nas publicações impressas, há maior espaço para desenvolver as histórias”, relata.
Em um momento de complexidade e debates a cerca da divulgação da arte – algo catapultado pelo tema do ENEM sobre democratização do cinema -, Gabriel Dantas faz parte de uma geração de quadrinistas que encontra o Instagram como seu espaço de divulgação, como relatado anteriormente. Ele diz que a rede social “surgiu exatamente com essa ideia de expansão, uma vez que hoje se apresenta como uma excelente ferramenta para divulgação do meu trabalho”.
Com isso, seu trabalho teve a possibilidade de alcançar ainda mais pessoas e gerar ainda mais questionamentos, algo que trouxe uma imensa expectativa com o anúncio de uma obra que não fizesse parte de tudo isso. Na rede, são possíveis ver comentários como “POXA EU IRIA NA CCXP SÓ PRA COMPRAR ESSE QUADRINHO mas não tenho dinheiro” ou “nunca estive tão triste por não poder ir na CCXP”.
A questão é que Gabriel fez algo pensando, exatamente, no público que estará na CCXP 2019, entre os dias 5 e 8 de dezembro. Assim, o artista queria fazer algo único, que nunca mais pudesse ser encontrado depois dali.
“No caso do Me Perdoe, eu gostaria de produzir algo novo para a CCXP. Além disso, de proporcionar às pessoas que me seguem um item exclusivo, praticamente de colecionador. Quem passar na minha mesa, terá um gibi que nunca mais será reimpresso”, revela.
Bom, para os admiradores do autor, a oportunidade de ter um contato com essa obra é única, talvez realmente a única oportunidade de ter esse contato. E, acima de tudo, a história está tão única quanto esse fato.