Orange is The New Black se despede de maneira agridoce

Quando surgiu em 2013, Orange is the new black trazia muitas coisas diferentes para o mundo da televisão.

A série criada por Jenji Kohan, baseada nas experiências reais da memorialista Piper Kerman em uma prisão de segurança mínima, trazia o que é até hoje um dos elencos femininos mais diversificados da televisão americana. Além de dar espaço e voz à histórias que até aquele momento não possuíam local na mídia, a produção foi uma das primeiras com o selo de “original Netflix”, e provavelmente a pioneira das famosas maratonas, algo que se tornou comum atualmente graças ao formato da plataforma de lançar toda a temporada em único dia.

Eventualmente, Orange se tornou um dos títulos mais assistidos da Netflix, cuja produção e lançamento de conteúdos originais acabou crescendo de uma maneira preocupante. Dessa forma, talvez pela vastidão do catálogo ou pela competição de outras emissoras e serviços de streaming, foi perceptível como a série perdeu espaço e prestígio em meio a ascensão e popularidade de outras séries, apesar de manter uma fã base muito fiel. No dia 26/07 foi então disponibilizada o sétimo e último ano da série, carregando o grande peso não só de encerrar os arcos e histórias das temporadas anteriores mas também de dar um desfecho e despedida dignos a essas personagens tão queridas.

Seguindo os mesmos moldes da temporada anterior, encontramos as detentas de Litchfield em lugares terríveis. Com exceção de Piper (Taylor Schilling), que se esforça para se ajustar a vida no mundo fora da prisão, todas as suas colegas se encontram em apuros. São muitas tramas e subtramas entre os diversos personagens: Taystee lida com o injusto sistema judicial após as consequências da rebelião, Penssatucky se esforça para conseguir um diploma em meio ao descaso da organização da prisão, o núcleo latino se divide entre a cozinha e o centro de detenção de imigrantes e os efeitos de um sistema cruel e ineficaz começam a afetar a saúde e a personalidade de Red e Daya.

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Desde o final da quarta temporada, a série tomou novos ares. Embora tenha, desde o começo, abordado temas sociais e políticos, sempre houve uma grande aura de humor e luz através da interação e personalidade das protagonistas, de diversos núcleos. Após a morte de Poussey, uma das personagens mais queridas, o tom predominante se tornou sóbrio e sério, quase sombrio. Portanto, o comentário político, que começou com a alusão ao movimento “Black Lives Matter”, não poderia ficar de fora no último ano. Aqui, presenciamos a crueldade e ineficiência dos sistemas carcerários privatizados e dos centro de detenção de imigrantes. Embora os personagens e ações da narrativa sejam fictícios, é muito difícil imaginar que a realidade desses locais seja distante do que foi retratado.

Com tantas questões a serem abordadas, é de se perguntar o que levou os roteiristas a investirem tanto tempo em flashbacks sobre detentas que já conhecíamos. Nesse último ano, somos apresentados brevemente a figuras cujo passado enriquece a narrativa principal, como a egípcia Shani, a guarda que força Alex a contrabandear produtos e a salvadorenha que auxilia Blanca com seu processo. Mas rever novamente os erros e tribulações de personagens como Maria Ramos, Alex ou Penssatucky pouco acrescentam e acabam trazendo um inevitável sentimento de perda de tempo, já que já passamos sete anos conhecendo a história dessas mulheres. Faz sentido então que atrizes brilhantes como Kate Mulgrew e Uzo Aduba tenham perdido espaço dentro dessa narrativa. Se Red e Crazy Eyes já brilharam bastante em temporadas anteriores, aqui suas tramas acabam sendo mais curtas do que poderiam ou deveriam devido ao tempo.

Ainda assim, é justo dizer que houve um equilíbrio ao encerrar a jornada dessas mulheres. Com uns mais infelizes  e outros mais injustos, foi uma decisão corajosa privar personagens como a alegre e divertida Maritza (em uma performance afável e, acima de tudo, sincera, de Diane Guerrero) de um final feliz em prol de trazer a realidade em sua forma mais crua para a tela. Em entrevista ao site Vulture, os roteiristas confirmam que embora não tenha fugido ou abrandado a realidade dos sistemas e processos judiciais, a situação dessas pessoas é bem pior e mais preocupante. Segundo a produtora executiva Carolina Paiz, “o lugar mais deprimente do mundo”.

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Quando os créditos do último episódio começam, para um fã fervoroso, é um momento emocionante. Pois você não se despede somente de um elenco singular, que sobra carisma e talento, mas de uma fonte ainda rara de histórias incomuns sobre mulheres comuns e extraordinárias. É um pequeno acalento ver o crescimento de personagens como Nicky e Flaca, cujo desenvolvimento parece estar pautado nos ciclos de uma aprendizagem que acompanhamos sem nem perceber.

Portanto, mesmo após alguns percalços no caminho, Orange se despede não só como uma série de ótima qualidade, mas também revolucionária de diversos modos. Apesar de deixar um gosto meio amargo pelas conclusões tristes, era um destino inevitável a partir do momento em que a equipe se comprometeu a trazer uma história, por mais cativante que seja, pautada na realidade. Resta esperar que sua jornada em termos de narrativa e representatividade abra caminhos para outras tão interessantes e enriquecedoras quanto.

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