Resenha – An Evening With Silk Sonic (Silk Sonic)
A introdução de An Evening With Silk Sonic, “Silk Sonic Intro”, é talvez uma das demonstrações mais claras do trabalho de que lugar o grupo formado por Bruno Mars e Anderson .Paak quer chegar. A contagem e toda a mistura de uma comemoração com a batida que traz levadas de jazz e soul. É quase uma jam session ao mesmo tempo que uma preparação para uma apresentação. Com isso, muito mais que uma construção de um trabalho, fica claro como ambos parecem estar em uma grande diversão nesse projeto conjunto. E isso não fica apenas por aí, já que perpassa todas as faixas do CD.
O mais interessante e diferente por parte dessa mistura é perceber como as influências parecem onipresentes ao longo desse trabalho. Mars, uma figura bem mais conhecida, sempre buscou trabalhar o mix e a grande brincadeira no encontro de gêneros musicais e ritmos. Já explorou desde o pop, dance, rock, romântico, blues, soul, etc. Essa grande variedade parece sempre se trabalhar através do lado mais chiclete por suas produções. Do mesmo modo, também traz em sua veia artística essa mistureba, apesar de um enfoque bem mais no R&B. Desse jeito, a ideia do disco parece ser, justamente, colocar isso tudo em um grande liquidificador e criar uma grande sessão de jam.
Mas o verdadeiro início de An Evening With Silk Sonic se encontra na música de maior sucesso até agora do duo: “Leave The Door Open”. Talvez seja a que mais parece ter o dedo e olhar de Bruno Mars, já que vemos uma certo DNA da sua carreira até os anos de 2015, com uma balada mais dançante. Do mesmo modo, impossível deixar de fora o groove de bateria que apenas acompanha e a letra grudenta. Porém, caso você esperasse uma continuidade disso, talvez se decepcione, já que Silk Sonic trabalha “Fly As Me” que traz elementos do hip-hop e jazz muito fortes, junto com um levada onipresente dos back vocals que reconstroem a todo instante o andamento. Começo mais perfeito não poderia haver.
A colaboração com Thundercat e Bootsy Collins em “After Last Night” traz, mais uma vez, a vertente quase romântica, mas essa muito mais trazendo um lado sensual, desde as vozes até em como a batida vai aparecer. Esse lado mais “calmo”, por assim dizer, também está conectado na sequência, em “Smokin Out The Window”. Porém, se até agora não parecíamos estar vendo diretamente as influências de .Paak com o R&B aqui elas estão intrinsecas à faixa. Desde as levadas, até mesmo sendo extremamente dançante e tendo a letra que traz elementos do rap, mesmo com um ritmo mais lento. Continuando na mesma pegada, “Put On A Smile” é a talvez a mais genérica do disco, por justamente parecer não querer buscar nenhum dos elementos trabalhados de forma mais enérgica pelos dois anteriormente.
Mas se An Evening With Silk Sonic poderia parecer uma produção até meio ‘cansada’, que buscasse olhar bem mais para o caminho de obras de show, a sequência final volta a elevar o conceito da jam session trabalhado anterior. A representação mais clara disso fica com “777”, que consegue brincar com o jazz onipresente no álbum, junto de um soul mais direto. O mesmo pode ser dito da seguinte, “Skate”, que consegue traduzir todo o elemento de diversão nos dois artistas e toda a conexão que parece, em certos instantes, complexa e que encaixa perfeita. O lado mais liberto fica tão presente que perpassa até mesmo nas letras dessas finais.
Todas essas questões constroem a grande conurbação entre os dois momentos mais claros do CD em “Blast Off”, o momento em que todos os gêneros citados anteriormente se colocam como fortificados. É isso que cria justamente o elemento de uma certa marca e DNA que o Silk Sonic já parece conseguir carregar mesmo com apenas poucas músicas divulgadas oficialmente.
Tentar traduzir tudo que está presente na cabeça dos dois artistas em An Evening With Silk Sonic parece ser uma tarefa difícil, quase impossível. E dentro dessa brincadeira das impossibilidades que Bruno Mars e Anderson .Paak conseguem criar um grande amálgama de paixões, referências e, sem sombra de dúvidas, muita músicas. E é essa questão que vai transformar o disco em não apenas um dos grandes do ano, mas também em uma referência para o futuro, especialmente de gêneros que ficaram renegados por algum tempo, como o jazz e o soul.