Crítica – O Homem do Norte

As primeiras imagens de O Homem do Norte denotam bem a forma como o filme irá abordar sua narrativa. Em uma narração em off, acompanhamos um tratado sobre Odin e a sua forma de controle dos humanos na Terra. Ao mesmo tempo que vemos imagens de um vulcão em erupção, causando estragos por toda a parte. Todo esse lado quase heróico e histórico da coisa, junto com o apuro visual., são o maior destaque por parte de Robert Eggers dentro da produção. A relevância do imagético até rememora trabalhos recentes que buscam retratar temas históricos, caso de Macbeth, de 2015, de Justin Kurzel. Ao mesmo tempo, também lembram a carga fantasiosa e onírica das imagens onipresente em Godzilla II: Rei dos Monstros

Assim como em sua sequência de abertura, o longa observa um cenário antigo sob um verniz extremamente contemporâneo. Ou seja, não há receio em uma tentativa de fugir desse aspecto “belo” da coisa sob uma ótica atual, especilamente no que tange a busca pelo uso de efeitos, por exemplo. Eggers quer construir toda a trama e desenvolvimento desse universo sempre por um olhar extremamente estético, algo até certo ponto semelhante, mas também diferente, ao que buscou em A Bruxa e O Farol. Em ambos, a visualidade dá um olhar único para a narrativa. Aqui, a narrativa serve, essencialmente, às imagens.

Isso é justamente um aspecto e propostivo de O Homem do Norte. O grande problema é que se ele encontra no caminho mais contraditório que a obra vai abarcar. Se, por um lado, há todo esse olhar por um apelo humano e inumano desse cosmo (feito muitro através dos gritos, corpos e até mesmo de coisas mais nojentas, como puns e arrotos, ao mesmo tempo que também por um aspecto de bruxas, entre outros), existe um lado mais fino que o roteiro tenta trabalhar. É nesse ponto que encontramos uma história essencialmente de vingança. De Amleth ainda criança (Alexander Skarsgård), que vê seu pai sendo morto pelo tio Fjolnir (Claes Bang). Assim, ele consegue fugir e jura que irá voltar um dia para salvar sua mãe (Nicole Kidman) e vingar a figura paterna. Uma trama totalmente shakespeariana e que vai ganhando contornos ainda mais dramáticos, especialmente na maneira como o protagonista vai descobrindo o que aconteceu ao longo desse período.

Se, por um lado, o filme tenta ser bem cru em todo desenvolvimento visual, por outro busca ser refinado demais ao desenvolver seus personagens. E isso feito de um jeito simplista até demais, já que Eggers não quer esquecer que sua intenção ali é puramente estética. Assim, certas questões, como a relação de Amleth e Olga (Anya Taylor-Joy), ficam totalmente jogadas, por exemplo. Do mesmo jeito, toda a intenção mais didática em mostrar a árvore genealógica do personagem principal e gerar nisso uma tensão crescente, também não parece fazer sentido algum. Desse modo, fica claro como o cineasta buscava algo muito mais puro desse universo, mas que teve de caminhar por um drama inteiramente contraditório.

Claro que existe algo a ser quisto por ali. Um exemplo bem claro disso é a forma como é desenvolvida toda a brutalidade do protagonista ao longo dos acontecimentos. Se ele é inteiramente brutal pela forma como sua vida aconteceu, acaba por ir regredindo, tentando retornar a uma humanidade. Todavia, é justamente a animalidade onipresente nesses corpos e personagens que fazem esse cosmo girar. Não há possibilidade de ser passivo, ou até mesmo dócil. A brutalidade é o que os torna, justamente, humanos.

Dentre os diretores da safra do chamado (erroneamente) pós-horror, Robert Eggers foi sempre o que mais conseguiu se destacar justamente por, ao mesmo tempo que abraça a crueza humana, também se atenta por um caminho sempre visual muito forte nos longas. Em O Homem do Norte isso ainda está presente, porém sob um verniz bem mais limpo, até contradizendo com muita coisa que o próprio filme tenta desenvolver. No final, até parece que nem entendemos bem qual caminho foi realmente explorado: se o aspecto mais feroz desse mundo ou seu caminho mais sutil. Independente de tudo, nenhum dos dois fica realmente às claras por aqui.

Comentários

Cláudio Gabriel

É apaixonado por cinema, séries, música, quadrinhos e qualquer elemento da cultura pop que o faça feliz. Seu maior sonho é ver o Senta Aí sendo reconhecido... e acha que isso está mais próximo do que se espera.

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