Resenha – Casa Branca (Maria Luiza Jobim)

“Eram paredes, que as cores conheço de có.” A sensação nostálgica está presente desde os primeiros versos de Casa Branca, primeira trabalho solo de Maria Luiza Jobim, filha de Tom Jobim. Todavia, diferente do pai, esses versos não está sendo acompanhados de um violão, ou no máximo alguma batida com instrumentos mais lentamente. A cantora traz um batida mais eletrônica, subindo aos poucos até dominar por completo essa primeira canção, a faixa-título. Musicalmente, estamos em um ambiente na qual é a tal casa branca. Aos nossos ouvidos, já estamos em outra realidade. Transportados para um universo gostoso de se estar, mas meio melancólico sem nem saber o porquê.

Através dessa composição rítmica, somos jogados em quase um outro mundo. A voz de Maria Luiza tem uma serenidade pulsante, quase como uma conversa com quem está ouvindo. Em momento algum é possível ver algum estouro maior nessa sonoridade, porém estamos diante de um trabalho que busca uma aproximação de olhares. Nesse sentido, rememora muito algo feito por Clarice Falcão em Monomania, ao trazer sua música para um ambiente quase íntimo. O sentimento é estamos dentro de uma casa ouvindo ela cantando para nós mesmos. Há um olhar bem simplista, porém instigando a atenção dos ouvintes.

Esse olhar buscando o DNA mais eletrônico e uma questão mais indie encaixa-se perfeitamente a um período atual da música nacional. Não havendo aqui nenhum juízo de valor – até pelo fato dessa diversidade proposta -, contudo a artista está em um caminho similar a casos de Mahmundi, Céu, AnaVitória e outras. O elemento móagico aqui é a forma sobre a qual estamos colocados nesse meio sonoro. A dissonância muitas vezes das canções contrastam aos temas mais delicados e complexos abordados. No caso daqui, existe algo profundo sobre um sentimento de nostalgia, pelo fato de remetermos o passado a quase todo momento (“E eu vendo as estrelas que sempre estiveram ali”).

A relação meio inexata entre amor e um misto de emoções sempre se fazem presentes. Nesse quesito, há uma sinergia perfeita entre forma e temática. “Fotossíntese” talvez o exemplo perfeito para ilustrar isso, visto que Maria brinca entre uma sensação de liberdade do eu-lírico em conluio das batidas frequentes. O baixo reforça apenas essa explosão na qual parece vir a qualquer momento de qualquer lugar, no entanto nunca chega. Quando parecemos que vamos chegar ao refrão mais forte, voltamos a um marasmo. É uma mistura da falsa sensação de liberdade e tranquilidades impostas pela pessoa cantando.

Toda essa sensação de melancolia onipresente fica também forte em “Incêndios”. Nessa, é possível observar uma maior força das batidas, quase querendo chamar a atenção. Como a própria cantora elucida, “tudo que nos falta, está tão dentro e tão perto”. É quase um grito para essa mesma persona de buscar entender-se internamente. Buscar entender seus próprios desejos, suas próprias e únicas relações. Ela canta isso, mas parece não conseguir enxergar dentro de si os mesmos levantamentos, quase como se desse um conselho sem seguí-lo.

Casa Branca é um trabalho deveras reflexivo e complexo de Maria Luiza Jobim. Para uma realização de estreia, é até bastante impressionante como a artista consegue brincar com as diversas maneiras de retratar seus questionamentos, sempre trazendo a um caminho bastaante confuso internamente. A busca por expressar de diversos jeitos, funciona bastante, quase cantando para o ouvinte sobre ele mesmo, em uma crise da atual geração até 40 anos. Amor, dor, nostalgia, lembranças. Tudo é misturado para buscar sensações. Afinal, estamos tratando sobre música, na qual é a emoção e sensação acima de qualquer coisa. Jobim entende bem isso. Ela nos coloca em sua casa branca e leva para um passeio sem volta.

Comentários

Cláudio Gabriel

É apaixonado por cinema, séries, música, quadrinhos e qualquer elemento da cultura pop que o faça feliz. Seu maior sonho é ver o Senta Aí sendo reconhecido... e acha que isso está mais próximo do que se espera.

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