Resenha – Horror Cósmico (HQ)

Paródias e brincadeiras com certos gêneros e as convenções dele são que, em muitos casos, podem acabar ficando um tanto quanto ultrapassados. E, de certa maneira, apenas se tornarem chatos, por repetir eternamente os mesmos clichês, digamos assim. É preciso cuidado ao trabalhar com esse tipo de obra, sabendo alimentar bem os caminhos que podem se tornar verdadeiramente interessantes. Dito isso, Aapo Rapi parece que sabia bem o que fazer quando trilhou o caminho na realização de Horror Cósmico. Numa tentativa de olhar para o terror sob uma nova visão, ele sabe brincar com alguns elementos já comumente conhecidos, contudo dando espaço a exploração de um universo inteiramente novo criado dentro da HQ.

E para saber de tudo isso, acompanhamos a história de Conde Drácula (ele mesmo) que, com seu ajudante Igor, passa todos os dias lendo livros de terror, tocando órgão, além de bbendo vinho e fumando tabaco. É uma vida de ostentações e riquezas. Só que, em determinado dia, uma visita de uma funcionária do governo local acaba obrigando ao castelo ter uma vistoria. Isso se junta ao fato de que essa mesma vila passa por alguns estranhos eventos envolvendo o nome de Drácula. Para se livrar de problemas, ele envia Igor até a aldeia para preencher uma série de formulários e relatórios sobre sua vida. Contudo, a situação acaba sendo uma grande armadilha.

O roteiro de Aapo se junta as ilustrações de Peppe Koivunen que bucam um olhar profundo para toda essa mitologia do horror. É claro que esse tema já foi explorado com exatidão e de diferentes maneiras por muitas outras obras, não é nenhuma novidade. O grande enfoque e perspectiva de pensamento dessa produção finlandesa é observar as profundas conexões passadas e presentes dos personagens. Um dos casos, é claro o principal, acaba sendo a relação entre o protagonista da história e seu servo. A maneira como os dois passam de sere uma simples dupla de interação para terem papel fundamental na forma de construção desse universo é muito rápida. Assim, as bases dessa vila, por exemplo, acabam sempre sendo atreladas ao reverso do que eles são.

E isso perpassa por muitos outros lugares que são motivos e circunstâncias para criação da comédia no quadrinho publicado pela Skript Editora. A aparição de Van Helsing de forma mais frequente – já quase ao fim – é também outra questão que reverbera a forma como esses seres se veem propriamente. Ao mesmo tempo que Horror Cósmico os coloca dentro da narrativa, fazendo parte intriseca dos acontecimentos, é como se eles também não deveriam fazer parte dali. Assim, quem pode ditar as regras? Desse jeito, a grande piada em relação a burocracia governamental acaba funcionando bem.

É complexo definir essa HQ de uma forma mais simples ou direta. Nem o pensamento de Aapo Rapi e nem os desenhos de Peppe Koivunen conseguem trazer um verdadeiro elemento de coesão mais dramática, só que esse é o grande ponto chave dessa trama funcionar. Caso estivesse mais atrelada a maneira de observar seus personagens, talvez seria possível um problema. Mas, buscando ir atrás da fundamentação para essas conexões e relações, Horror Cósmico se torna menos um grande conto irônico, e mais uma obra sobre um entendimento humano nesses monstros.

Comentários

Cláudio Gabriel

É apaixonado por cinema, séries, música, quadrinhos e qualquer elemento da cultura pop que o faça feliz. Seu maior sonho é ver o Senta Aí sendo reconhecido... e acha que isso está mais próximo do que se espera.

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