Saiba como foi a primeira Bienal do Livro do Rio, há 40 anos
Era 3 de novembro de 1983 quando as ruas de Copacabana festejavam a literatura. Naquele dia, começava, através da organização do Sindicato Nacional dos Editores de Livros (SNEL), a Bienal do Livro do Rio de Janeiro, um dos maiores eventos do país na área, chamada de Feira Internacional do Livro-Rio naqueles anos. Na época foi bem menor do que estamos acostumados atualmente, no Riocentro, na Zona Oeste do Rio. A exposição ocorreu dentro do Copacabana Palace (hotel que também faz aniversário em 2023, mas de 100 anos). Eram 104 estandes no total com 86 editoras, sendo 85 de expositores nacionais e 19 de internacionais. Com um espaço de 1400 m², considerado pequeno até pelos padrões da época, muitas editoras menores e possíveis exibidores ainda ficaram de fora. Para se ter uma ideia, o espaço atual é de quase 60 mil m².
Em uma reportagem do Globo para falar dos 30 anos do evento, a produtora na época Tatiana Zaccaro explicou que o objetivo da feira era tornar o Rio de Janeiro como, novamente, um centro de cultura do país.
“Já existia uma bienal em São Paulo. Mas como as grandes editoras nacionais estavam localizadas no Rio de Janeiro sentiu-se a necessidade de criar um evento aqui na cidade”
Mesmo assim, muita gente não acreditava. Grandes editores chegaram até mesmo a duvidar sobre a capacidade de sucesso. Isso porque São Paulo dominava todo o mercado livreiro e cultural. Não a toa, a ideia era buscar algo tipicamente carioca. O primeiro evento grande literatura do país foi uma Feira do Livro, realizada na Praça da República, em São Paulo. Ela ocorreu em 1951 e foi idealizada pelo empresário Ciccillo Matarazzo. Dez anos depois, veio a Bienal Internacional do Livro e das Artes Gráficas, no MASP.
Ambos foram importantes como experiências e conceitos para a construção da primeira Bienal Internacional do Livro no Brasil, em 1970. Quem criou tudo do zero foi a Câmara Brasileira do Livro no período. Ou seja, a Bienal do Rio aconteceria apenas 13 anos depois e com algumas edições já de São Paulo no currículo.
Apesar das dúvidas, a primeira edição teve um grande apelo e destaque. Nomes de sucesso, como Ziraldo, Luis Fernando Verissimo, Caio Fernando de Abreu, Ferreira Goulart e Ana Maria Machado estiveram presentes, fazendo sessões de autógrafos e participando de algumas mesas de debates. O Sindicato Nacional dos Editores de Livros apostava alto. Foram cerca de 20 mil presentes e o evento teve uma ideia também editorial, já que fez pesquisas com os presentes e descobriu mais informações sobre o perfil do leitor carioca, resultado esse divulgado em 1984. Segundo o sindicato:
Naquela época, o leitor carioca tinha pouco mais de 30 anos, curso universitário completo, e renda de média para alta. Em termos políticos, se considerava um liberal. Preferia livros de ficção, mas também se interessava por ciências. Era leitor assíduo de jornais e frequentador constante de livrarias.
Além disso, teve nomes importantes da política em um período da reabertura para a democracia, como os governadores do Rio e de São Paulo e o ex-presidente Jânio Quadros.
Desde então, a Bienal do Livro passou a revezar com São Paulo, em cada ano acontecendo em uma das cidades. A segunda edição, em 1985, foi no terceiro andar do shopping Fashion Mall, também na Zona Sul do Rio, no bairro de São Conrado. Menos divulgado, o evento só começaria a trilhar seu período de auge – que acontece até os dias de hoje -, em 1987, quando realmente assumiu o nome de Bienal e foi para o Riocentro. Desde então, não saiu mais. Naquele ano, teve 123 estandes e até mesmo 11 gravadoras de discos, que participavam, de forma simultânea, no primeiro Salão Nacional do Disco.
Apesar disso, a disputa com a capital paulista continuou desde então. Apenas no ano de 1997 que a Bienal do Livro do Rio assumiu o posto de maior evento literário do país, seja em número de expositores, seja no público presente. Muito disso se deve, é claro, ao local bem maior do que o de São Paulo. No entanto, junto com a Flip, a feira fez o Rio se transformar na capital dos livros.
Parte dessas histórias estarão no livro A grande festa do livro: 40 anos da Bienal Internacional do livro do Rio de Janeiro, que será lançado na edição de 2023 do evento durante as comemorações. Com organização de Eduardo Salomão e edição de Marcos da Veiga Pereira, a edição vai trazer diversos momentos icônicos e históricos da organização. A obra será apresentada em primeiro de setembro, na abertura da edição de 40 anos do evento, em 2023.
