Dez anos depois de Gangnam Style, o que mudou na música pop?

Não sei você, caro leitor, mas fiquei um pouco impressionado quando vi a notícia que “Gangnam Style”, canção do sul-coreano PSY, fazia dez anos em 2022. A sensação é de muito mais tempo, especialmente pelas transformações que a indústria musical teve desde então. Em 2012, o Spotify ainda engatinhava, e era o Youtube o grande disseminador de hits. O TikTok nem sonhava em nascer. Apesar disso, a faixa marcou um lugar interessante na história da primeira arte. E isso desde o seu papel mais direto – por fazer o mundo inteiro dançar uma música quase na totalidade em uma língua desconhecida – seja no indireto – por ser uma espécie de pedra fundamental para o K-Pop mundialmente.

Talvez nesse segundo ponto os fãs do gênero venham me trucidar um pouco. Grupos como Big Bang, Girls’ Generation e 2NE1 já traziam hits para os mais diversos países, especialmente nos Estados Unidos. Eram considerados sucessos. Porém, a cultura da Coréia do Sul ainda não parecia ter dominado por completo por boa parte do mundo. “Gangnam Style” gerou uma intensa comoção por uma batida extremamente chiclete, além de um clipe inesquecível. PSY (muito mais rapper do que cantor pop, aliás) tinha pouco mais de 30 anos e nenhum sucesso gigantesco no currículo. Publicado no YouTube em 15 de julho de 2012, foi o primeiro vídeo na plataforma a superar 1 bilhão de visualizações e fez a Billboard passar a levar em conta o site para contabilizar as músicas mais ouvidas no mundo. No final daquele ano, esteve entre mais ouvidas em cerca de 30 países. Só foi perder o posto de canção da Coréia do Sul a atingir melhor posição no ranking da Billboard em 2020.

O fenômeno é importante quando olhamos as mudanças que o cenário musical passou nessa década. Hoje em dia, vivemos em uma fase extremamente globalizada na música, mas igualmente nichada. Cada vez menos temos astros que ultrapassam barreiras de gostos musicais e as novas gerações buscam observar os pequenos hits que explodem – especialmente no TikTok. Porém, será que a primeira arte seria tão globalizada atualmente, principalmente na junção do ocidente com o oriente, sem o hit de 2012? Óbvio que algo tomaria o papel e estaria em seu lugar guiando essa transformação na indústria. Contudo, se não fosse um astro coreano, talvez até mesmo o BTS (que viria a sugrir no ano seguinte, aliás, e quebrou o recorde de PSY) não teria a importância que conquistou hoje em dia.

Aliás, é interessante como até mesmo ele traz mudanças no mercado de videoclipes. Se até os anos 1990 vivíamos o momento auge desse formato (com a MTV como grande representante disso), os anos 2000 foram de uma vertiginosa queda nesse tipo de produção. Porém, artistas pareceram voltar a olhar com bons olhos novamente após o hit de Park Jae-sang. É algo que está muito forte nos Estados Unidos, em que cada vez mais o visual ganha sua importância no pensamento das músicas. Não a toa, o formato de filmes para álbuns acabou se popularizando desde Lemonade, de Beyoncé.

O universo da música é ciclico e complexo. Apesar do mundo inteiro estar aos seus pés nos anos seguintes, PSY conta que tinha uma dependência enorme da faixa, e que se sente realmente livre atualmente. É claro que isso acabaria acontecendo. Hoje em dia, adora quando canta para qualquer um e em qualquer show. Mas ele chegou a cansar em certo momento. Justíssimo. Até mesmo para alguém que, de uma forma um tanto quanto inovadora, criou novos padrões e pensamentos para uma indústria que vivia um período bem confuso. Se nos tempos atuais podemos ouvir ao rolar a tela ou em uma playlist aleatória do Spotify uma canção espanhola, coreana, porto-riquenha e alemã, o artista é um dos grandes responsáveis. Sem dúvidas, é talvez o viral mais importante para a indústria da música nos tempos digitais. Por isso, é só seguir fazendo a dancinha do cavalo, e “Oppa, Gangnam Style”.

Comentários

Cláudio Gabriel

É apaixonado por cinema, séries, música, quadrinhos e qualquer elemento da cultura pop que o faça feliz. Seu maior sonho é ver o Senta Aí sendo reconhecido... e acha que isso está mais próximo do que se espera.

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