Crítica – Stranger Things 4 (Volume 1)

O final da terceira temporada de Stranger Things estabeleceu uma espécie de final temporário para esses personagens. Alguns se mudavam até de Hawkins, a cidade por onde toda a história passou até chegar ali. Parecia um final até bem perfeito para uma série que, apesar do grande apelo popular, sofreu muito com os altos e baixos e pela grande quantidade de personagens. Apesar de carismáticos, a maioria sempre sofreu muito pelo desenvolvimento, algo que é sentido de forma profunda no segundo ano. Entretanto, o que dá dinheiro continua, por isso, o quarto ano da produção foi confirmado, com um quinto como finalizador.

E, por incrível que pareça, é em Stranger Things 4 que a série parece mais ter estabelecido seu patamar de entendimento narrativo. Os Duffer Brothers sempre falharam na forma de abordar as conexões entre os protagonistas, mas aqui tudo isso está extremamente alinhado. A começar pelos diversos núcleos, que trazem uma leveza e complexidade necessária ao longo de duração dos sete episódios disponíveis (todos com, ao menos, 1h10 minutos). Nesse sentido, vemos, por exemplo, todo o aprofundamento do conhecimento dos personagens pelo Mundo Intertido sendo colocado verdadeiramente em prática. Do mesmo modo, o passado de Eleven aparece agora verdadeiramente escancarado, capaz até de trazer um desenvolvimento curioso ao grande vilão da temporada.

Aliás, esses elementos deixam claro como parecemos estar vendo uma grande continuidade da primeira temporada. Só que, se por lá, tudo era feito de um jeito muito mais infantilizado, aqui há um caminho mais penoso a ser ultrapassado, especialmente no que tange a vida normal da cidade. Antes, os habitantes de Hawkins eram totalmente colocados em segundo plano. Aqui, eles são parte central da história, confrontando a narrativa colocada pelas crianças e com alguns até em um grande caça às bruxas contra elas.

Porém, se estamos falando da parte mais bem elaborada e construída dessa quarta temporada, Stranger Things também tem seu lado ovelha negra, que já era recorrente em anos anteriores. O primeiro, e principal deles, a relação entre Mike e Eleven, que passou de algo bem construído para extremamente cansativo no decorrer dos capítulos. Ambos protagonistas, aliás, que foram se transformando em cada vez mais deslocados com o passar dos anos. Em segundo, e que está mais em voga nestes sete episódios, é a trama de Joyce e Jim Hopper. Obviamente, existe um lado em brincar com toda a ideia da conspiração russa, ao mesmo tempo que uma grande homenagem para filmes de fuga. Só que é talvez a grande pedra no sapato do avanço da trama, que tenta soar como algo maior do que realmente é.

Como sempre, a série tem uma vasta capacidade de trazer personagens novos que conseguem ser interessantes, bem desenvolvidos e aprofundam a história para o tema em si que está buscando ser abordado. Aqui, quem mais se sobressai é Eddie Munson (Joseph Quinn), o grande alvo por parte dos cidadãos do município, e Argyle (Eduardo Franco), o único membro que realmente traz algo dentro do núcleo de Will, Mike e Jonathan. Os dois se desenvolvem e tem capacidade de serem explorados a favor da imensa conspiração que vai se formando.

Ao longo de seus quatro anos, Stranger Things teve uma grande capacidade de atrair o público, apesar de ter vivido muito bom momentos que acabaram sendo até bem esquecidos. Contudo, em sua reta final, é revigorante perceber como uma produção pode conseguir diversos elementos capazes de fazer a narrativa realmente caminhar em busca de algo novo. Dessa forma, temos muitos mais elementos gore, de horror e até mesmo dramáticos, consolidados nos bons espaços das três temporadas anteriores. Claro que ainda falta uma vontade propriamente dita para que a obra consiga fugir de um certo clichê autoimposto, porém, ao conseguir caminhar, já faz um trabalho interessante para se seguir.

Comentários

Cláudio Gabriel

É apaixonado por cinema, séries, música, quadrinhos e qualquer elemento da cultura pop que o faça feliz. Seu maior sonho é ver o Senta Aí sendo reconhecido... e acha que isso está mais próximo do que se espera.

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