Crítica – Os Ausentes (1ª Temporada)

Um momento simbólico de Os Ausentes: no terceiro episódio da temporada, é revelado que uma pessoa que, até então, era aliado de nossos protagonistas, tem um passado sombrio como matador de aluguel. Isso traz implicações preocupantes para o caso sendo investigado, incluindo o desaparecimento do cunhado desse matador. Em um espaço de, mais ou menos, 10 , 15 minutos, descobrimos essa informação, o matador vai atrás de seu cunhado, ameaça matá-lo, para, logo seguida, se arrepender e gritar “Você é minha familia!”. Seria uma cena muito bonita se não fosse a absoluta pressa dos acontecimentos, que impedem que qualquer sentimento dure muito.

Os Ausentes é uma série brasileira original da HBO Max, cujo foco é centrado na agência título, especializada em encontrar pessoas desaparecidas em São Paulo. Ela é comandada por Raul (Erom Cordeiro), ex-policial que tem relação muito próxima com o problema do sumiço de pessoas: sua própria filha desapareceu anos atrás sem deixar rastros, sua obsessão pelo caso o fazendo perder o cargo de delegado e seu casamento. A rotina da agência um dia é alterada pela presença de Maria Júlia (Maria Flor), uma jornalista que diz querer escrever uma matéria sobre o trabalho de Raul, mas também possui um familiar desaparecido, seu pai.

A produção se divide em aspectos mais procedurais, ou seja, cada episódio um caso diferente, que é introduzido e se fecha ali mesmo. O arco narrativo maior, envolvendo os casos pessoais de Raul e Maria Júlia, que vão se desenvolvendo pouco a pouco. Os dois aspectos da produção, no entanto, são tediosos, devidos a situações similares àquelas que citei na abertura do texto. Nada se sustenta por muito tempo, não se cria suspense, drama, já que os episódios vão de informação à informação até que o final chegue e tudo fica resolvido.

Um dos episódios envolve um amor proibido entre duas pessoas, revelado, é claro, somente ao final. E é até fofo, devido as partes envolvidas, mas os criadores da série parecem contar que aqueles breves minutos bastariam para suscitar qualquer espécie de sentimento por personagens que só vimos brevemente no início do episódio. Pior ainda, é o discurso de liberdade de outro personagem que vem logo em seguida, sendo que mal sabemos muito bem quem ele é, os temas que ele apresenta não foram apresentados ao longo do episódio. Os Ausentes simplesmente não se preocupa em construir situações ao longo dos seus capítulos. As coisas só acontecem e pronto.

Os arcos narrativos maiores da primeira temporada da série não se sustentam por motivos muito similares, com a sua evolução se preocupando somente com informações do que em uma construção narrativa de fato. Nem a relação entre os personagens recorrentes ganha um pouco mais de carne, sendo o que precisam ser de acordo com o que a situação precisa. Sem contar as poucas tentativas de cenas de ação, ou qualquer situação que requeira um pouco mais de intensidade, na verdade, editadas de modo a serem incompreensíveis.

Assim, pouco se salva na produção brasileira. Os episódios finais até parecem reconhecer o problema e elaboram um pouco mais certas histórias, mas é tarde demais resolver a péssima impressão criada até então, ou criar qualquer expectativa em relação a uma futura temporada.

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