Crítica – O Menino que Matou Meus Pais e A Menina que Matou os Pais

Histórias de true crime ganharam impacto recente no Brasil e no mundo. Claro que já eram tramas extremamente amadas e seguidas por um grupo de pessoas fãs de, especialmente, documentários sobre crimes reais. Contudo, essas narrativas parece que ultrapassaram uma barreira já demarcada e se tornaram parte de um grande imaginário coletivo nos últimos tempos. Obviamente, isso se deve ao fato de que, em boa parte das ocasiões, já conhecemos os casos e somos familiarizados com o desenrolar midiático deles. Um desses é o caso de Suzane Richthofen que, junto do então namorado e o cunhado, matou os pais de forma brutal. O caso, ocorrido nos anos 2000, se transformou em um dos grandes imaginários coletivos do país.

E isso agora se reflete na produção em dois filmes, que seguem a mesma histórias, mas por diferentes visões. O Menino que Matou Meus Pais e A Menina que Matou os Pais trabalham os olhares do pregresso por Suzane (interpretada por Carla Diaz) e Daniel Cravinhos (feito por Leonardo Bittencourt). No primeiro, acompanhamos o relato da filha do casal morto em tribunal, mas com uma trama que se baseia nos flashbacks. Assim, ela culpa o então namorado pelo caso e por ter planejado as mortes. Já na segunda, é pelo depoimento do irmão Cravinhos mais novo que vemos tudo acontecendo, com um enfoque para a possível forma como Suzane fez ele cometer o crime.

A direção dos dois longas por  (que comandou também os dois filmes recentes de Carrossel) é justamente de tentar buscar uma certa pinta de “isenção” no caso. Dessa maneira, o diretor pisa em ovos para abordar qualquer temática que a história, de uma forma ou de outra, está conectada. Por exemplo, a questão de classe dos dois, o fato de um ser pobre e a outra rica, acaba sendo um elemento que aparece sempre de maneira superficial. Do mesmo jeito, o caráter mais psicológico desses personagens é quase deixado de lado para não entrar em mais detalhes possivelmente “tensos” de se abordar com uma plateia geral.

Sendo assim, é complicado perceber como O Menino que Matou Meus Pais e A Menina que Matou os Pais se torna extremamente vazio na abordagem. É uma produção que tem um conceito e ideias que podem ser até curiosas e causarem uma relação de mais curiosidade para aqueles que não conhecem nada do caso. Porém, para qualquer coisa 1% acima desse pequeno detalhe, vira realmente algo que não traz nada e não quer realmente dizer nada. É impressionante como a trama faz os próprios filmes não saberem aonde querem chegar. Desse jeito, não são nem algo que busca falar sobre o “true crime” e nem mesmo uma dramatização. Apenas são.

O pior é que todo esse caminho apenas reforça que não há sentido algum em uma divisão dos longas. Isso porque a grande ideia marqueteira por detrás é buscar fazer o público querer comparar as histórias. Contudo, o que vemos é muito mais um olhar moralista da situação (o uso de drogas como algo negativo reforça bem essa questão) em ambas e poucas diferenciações sobre o lado da criminalidade. É quase como se esses personagens não fossem passíveis de sofrer influência – mesmo que o conceito dessa narrativa seja realmente a influência de um em cima do outro.

 poderia pensar em várias abordagens e pensamentos diferentes a se tratar sobre O Menino que Matou Meus Pais e A Menina que Matou os Pais. Entre eles, se encontram desde o lado mais do tribunal da vida real, até mesmo toda a repercussão da mídia sobre os casos – e como teve todo um lado “curioso” por se tratar de uma família rica. Porém, o que vemos é realmente como o receio de querer encostar em qualquer coisa mais polêmica, transformou as obras em grandes vazios. Sem terem o que tratar, nem elas entendem bem o por que e como existem.

Comentários

Cláudio Gabriel

É apaixonado por cinema, séries, música, quadrinhos e qualquer elemento da cultura pop que o faça feliz. Seu maior sonho é ver o Senta Aí sendo reconhecido... e acha que isso está mais próximo do que se espera.

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