Crítica – Top Gun: Maverick

Se você me dissesse dez anos atrás, que aquele filme cheio de aviões e com vinte metrossexuais exibindo gratuitamente seus corpos cheios de anabolizantes; aquele filme lá do Tom Cruise com uma música famosona, ia ganhar uma continuação em pleno ano de dois mil e vinte e dois, eu realmente não acreditaria. O primeiro Top Gun é puro delírio coletivo. Um astro em ascensão capitaneando um filme típico dos anos 80, bem formulaico e cheio de estereótipos.

O filme de 1986 é fraco em matéria e substância. O que salva nele são justamente as cenas de ação entre caças, belamente projetadas por Tony Scott e sua equipe. Nem a boa química entre os parceiros Maverick e Goose são o bastante para alçar o filme além do nível de mediocridade que apresenta. E realmente, o único arco interessante da primeira iteração de ‘Ases Indomáveis’ é o de Goose. Sem querer, o querido personagem – que falece durante o primeiro filme (spoiler alert) – se torna o grande mote da franquia e deveras um excelente ponto de partida para a sequência, Top Gun: Maverick.

Entrando na sala de cinema para prestigiar a nova produção da saga, eu nunca esperaria que sairia tão comovido e envolvido com o filme como saí. A morte de Goose e as repercussões entre seu filho, vivido por Miles Teller, e o protagonista Maverick, são o cerne emotivo do longa. E funcionam muito bem. A relação dos dois é explorada em camadas que são descascadas gradualmente durante a sequência. O roteiro é excepcionalmente bem desenvolvido e constrói aos poucos um drama grego que quase descamba em tragédia. A inserção de um arco romântico e de um ‘antagonista’ que pressiona Rooster é a única coisa formulaica e tradicional na sequência, mas fica tudo muito bem posicionado, não compremete no ritmo. O clímax, que se estende bem mais do que eu tinha previsto, é envolvente e empolgante. Top Gun: Maverick é muito mas muito bem montado. Dá gosto de ver. E ao final do longa, nem parece que se passaram 2 horas e 10.

Talvez um único erro do filme tenha sido justamente a falta de antagonismo. Eu disse mais cedo no texto que existe um antagonista que pressiona Miles Teller, um personagem que evoca o próprio Val Kilmer no primeiro Top Gun e que serve mais como um bully do que um vilão. Porém, falta para o desenvolvimento uma ameaça maior que entregue riscos mais severos para os protagonistas. Esse papel de altercação se dá com a missão supostamente suicida que Maverick tem em suas mãos, o suspense é construído com ela e também com os inimigos sem rosto que caçam Maverick e Rooster durante o terceiro ato. No entanto, achei que faltou uma sensação de perigo maior.

Deixando o defeito de lado, um dos grandes trunfos de Top Gun: Maverick também é a experiência cinematográfica que o longa proporciona. Fazia muito tempo que não via cenas tão esbaforantes, filmadas em aviões reais durante condições extremas. A fotografia do filme também é impecável, várias cenas são como molduras cuidadosamente posicionadas na telona.

A direção é precisa, colocando sempre o princípio “show, don’t tell” como prioridade em seus enquadramentos, rotas de cena e entrega dos diálogos. A performance de Tom Cruise neste filme inclusive, é uma das melhores do ator em anos – fazia tempo que o cara não se entregava tanto pra um personagem como aqui.

E pra variar, a trilha sonora também é um dos pontos fortes desse Top Gun. Hans Zimmer evoca temas antigos e cria vários novos que elevam o suspense das cenas e ambientam muito bem o clima oitentista que Top Gun evoca. A música original de Lady Gaga – co-escrita com o genial BLOODPOP – é uma adição perfeita pro final, é a cereja do bolo que nos embala não só pelo epílogo da saga como também até a duração completa dos créditos principais da sequência.

O segundo filme de ‘Ases Indomáveis’ realmente se provou necessário e compensou toda a luta que seu capitão fanático Tom Cruise teve para que o filme saísse do papel. Foram anos e anos até ter um roteiro decente e um projeto sólido. E não é que deu certo?

85

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