Crítica – Uma Mulher do Mundo
Uma Mulher do Mundo começa sob o olhar de julgamento por parte do público. O objetivo da diretora Cécile Ducrocq é justamente causar um constrangimento ao demonstrar Marie (Laure Calamy), uma prostituta, no meio de um dia comum de seu trabalho. Ela faz sexo e depois é questionada por um cliente o valor do serviço. Traz todas as informações sem o maior pudor. A encenação, tratando aquilo com uma naturalidade, pode até causar estranheza para alguns, mas é justamente ela que constrói um universo que irá entrar em contraste com tudo isso. Universo esse do filho dela, Adrien (Nissim Renard), um jovem problemático na escola que acaba indo cursar culinária francesa.
Marie, no entanto, não é apenas uma “profissional do sexo”. Ela também é parte do sindicato de prostitutas do país e tenta defender isso a todo custo. Mais uma vez, esse seu mundo faz parte de uma normalidade dela na narrativa, que vai entrar em cheque com a necessidade de se adequar a algum padrão, especialmente na criação do filho. Apesar de todos os problemas, seu grande objetivo na vida é construir algo bom e positivo para o filho no futuro. Fazendo com que ele possa ter oportunidades que ela não conseguiu.
Ducrocq faz um filme extremamente dúbio na sua abordagem. Ao mesmo tempo que ele chega a ser cômico em algumas situações de sexo, especialmente aquelas que envolvem estranhezas e são filmadas de forma um tanto boba, é também sempre elucinado em um drama recorrente. Todo o olhar da direção para com a protagonista é devidamente marcante, já que ela é alguém que está indo para todo lugar a qualquer momento. Em um instante, tenta dar atenção para o filho. Em outro, precisa arrumar alguma outra forma de conseguir dinheiro com a profissão que segue. É literalmente uma “mulher do mundo”.
A Mulher do Mundo é realmente um longa que traz a encenação um tanto quanto confusa como parte do seu desenvolvimento dramático. Em várias ocasiões, a montagem cola cenas que parecem não ter sentido, porém que geram uma progressão dos problemas e das situações que Marie precisa enfrentar. É como se reforçasse isso por toda parte e de todas as formas diferentes. Como se, independente de qualquer coisa que ela tentasse, está já dentro desse universo que a oprime, enquanto uma mãe solteira e prostituta. Por isso, esse mundo entra em confronto com suas perspectivas.
Mesmo sendo extremamente simpático com a protagonista, a obra acaba sendo um tanto quanto cansativa em determinado período ao repetir sempre uma mesma situação. Aliás, é até meio complexo como a trama quer dar espaço para uma relação complicada de mãe e filho, porém nunca traz uma verdadeira possibilidade dela se aprofunda. Tudo fica por uma superfície, que não tem muita intenção de ir além disso. Só que o próprio drama se baseia nessas questões, ficando sempre truncado.
Longe de ser ruim, A Mulher do Mundo é um filme que acaba se atrapalhando ao não saber bem a forma como trata todas as relações estabelecidas no decorrer dos desenvolvimentos. Enquanto trabalha de um jeito quase perfeito todas as complicações de sua protagonista, acaba dando pouco espaço para as relações familiares e a própria ideia do trabalho da personagem, que é alvo de tanto embate na trama. Desse jeito meio desconfigurado, acaba sendo levado por uma persona verdadeiramente curiosa de se acompanhar pela direção de Cécile Ducrocq. Só que, infelizmente, acaba ficando apenas por aí mesmo.