Crítica – Moonfall: Ameaça Lunar

Um dos diretores sinônimos de filme catástrofe é Roland Emmerich. O alemão fez diversos longas no início da carreira variados nos gêneros, mas, quando chegou nos Estados Unidos, entrou de vez no universo da ficção-científica e despontou para um público mundial com Independence Day, um dos grandes sucessos dos anos 1990. Depois disso ainda produziu O Dia Depois de Amanhã2012Independence Day: O RessurgimentoO Ataqueentre outros. A carreira marcada por isso fez muita gente começar a analisar a constância desses trabalhos e a forma como cada um parecia diferente do outro, mesmo abordando os temas similares. Nem sempre o cineasta parecia interessado nos mesmos aspectos em cada uma das obras.

Com isso, chegamos em 2022 no lançamento de Moonfall: Ameaça LunarSe Emmerich sempre buscou um lado mais mundialesco das catástrofes, aqui ele tenta abordar um aspecto mais intimista ao fazer um grande jogo entre o fanástisco e o realismo. De início, o real se impõe. É nesse momento que acompanhamos o pós de uma viagem fora da Terra dos Brian Harper (Patrick Wilson) e Jocinda Fowl (Halle Berry), que terminou na morte de um companheiro. Brian é julgado e até expulso da NASA. Tudo começa a mudar após a descoberta que a lua alterou a órbita ao redor do planeta e vai se chocar, em pouquíssimo tempo, com a Terra, podendo fazer a espécie humana ficar extinta. Para resolver a questão, os dois voltam a formar a dupla. É nesse momento que o fantasioso toma conta.

É até interessante como a direção transborda o aspecto mais dramático em boa parte do filme. O grande ápice de acontecimentos verdadeiramente acontece nos 45 minutos finais, deixando todo o resto para uma grande preparação. Nesse sentido, o desenvolvimento de Harper que, além de perder o emprego, perdeu também a família e o relacionamento que tinha com o filho. Ao mesmo tempo, Jocinda parece uma pessoa que também não tem tempo para nada e vê na criança que tem com o ex-marido a única maneira de se manter presente no mundo. Esses elementos se juntam a participação de KC Houseman (John Bradley), um jovem que tem o sonho de servir à NASA e é apaixonado por astronomia, além de ser a primeira pessoa a descobrir a mudança da trajetória lunar. Juntos, apenas os três tem a capacidade de salvar o planeta.

Obviamente existe um heróismo eminente no pensamento de Emmerich. Até porque, apenas com isso, a possibilidade de conseguir fugir dessa realidade vira verdadeira. E é até curioso como o filme não perde tempo para começar a trazer os efeitos da problemática científica da trama, com todos os lugares entrando em um grande colapso ao mesmo tempo antes do fim da primeira hora. Porém, o que verdadeiramente importa na direção é essa transformação do real para o imaginário, que toma forma no momento em que os personagens começam a tomar as próprias atitudes.

Dentro disso, talvez se encontre o grande erro de Moonfall: Ameaça Lunar ao continuar dando espaço para os núcleos familiares, mesmo após esses protagonistas já estarem fora da Terra. Claramente há um elemento de pertencimento para os principais. Contudo, o espaço dividido tira a tentativa de trazer uma dimensão mais astral para a narrativa. O grande clímax, por exemplo, não está pautado na “luta” e sim no descobrimento do mundo irreal que está na nossa frente a todo instante. O diretor poderia deixar isso de lado e até absorver um lado mais sci-fi do desenvolvimento, como em Interstellar acontece. Porém, o que verdadeiramente importa aqui é defender esse mundo fantasioso, como M. Night Shyamalan sempre costumou fazer em seus filmes.

Nesse grande jogo do heróismo, Emmerich não assume verdadeiramente um lado totalmente americano ou até uma tentativa de brincar com uma paz mundial. Não existe um patriotismo construído ali, justamente porque esses personagens estão mais categorizados em um universo particular. E é nesse mundo único de cada um deles que os dramas pessoais do realismo podem abrir espaço para tentativa de algo novo, de uma certa infância perdida – a fantasia por si só. Até por isso, faz sentido todo o desenvolvimento do filho de Fowl e de como ele vira o grande responsável pela missão final. Pouco importa os mísseis nucleares, o importante é apenas acreditar.

Moonfall: Ameaça Lunar parece até não compreender bem em certos instantes para qual caminho quer andar. Quando dá espaço demais para um conglomerado terreno, talvez perca mão no progresso de um mundo para qual os adultos teimam em não acreditar. No fim, até mesmo a personalidade de KC, que, a prióri, poderia ser interepretada como o alívio cômico, vira uma defesa do fantástico. Roland Emmerich traz um recado para o público, no fim das contas: “melhor acreditar no cinema, que no mundo real”. É, Emerich, você está certo.

Comentários

Cláudio Gabriel

É apaixonado por cinema, séries, música, quadrinhos e qualquer elemento da cultura pop que o faça feliz. Seu maior sonho é ver o Senta Aí sendo reconhecido... e acha que isso está mais próximo do que se espera.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *