Resenha – Dragon Hoops (HQ)

Gene Luen Yang é talvez um dos grandes quadrinistas da atualidade a buscar nas suas relações mundanas/cotidianas, grandes histórias. Ele faz isso em O Chinês Americano de forma mais direta, ao trabalhar alguns aspectos da própria vida, e até mesmo quando desenhou heróis, como o Superman. Desse jeito, Dragon Hoops soa quase uma HQ esquisita, ao buscar novamente o seu próprio autor em cheque na narrativa, porém como alguém disposto a aprender, que não sabe nada sobre esse mundo. Mundo esse, no caso, do basquete.

Sem ideias para um novo trabalho, Yang começa a tentar buscas inspirações em coisas novas para ter algo sobre o que escrever. Sem muita aptidão ou interesse em esportes, ele vê no basquete uma possibilidade dupla: ao mesmo tempo que uma história, também a oportunidade de aprender sobre algo novo, do zero. Esse jornada surge através de um estudo profundo sobre o time da escola em que ele trabalha, que dão nome a própria obra. Esses que sofrem uma gigantesca sina, de nunca terem conseguido vencer o campeonato estadual, mesmo já tendo ido a diversas finais. Contudo, esse parece ser o ano, com o autor acompanhando desde o início da preparação até as partidas derradeiras.

Um dos aspectos mais intrigantes de Dragon Hoops é na forma como ele se estabelece diretamente como um “documentário” em formato de quadrinhos – assim como Virgem Depois dos 30. Só que, nele, Gene vai se colocar como um personagem diretamente, mas alguém que está atrás de ter um olhar completamente novo. Dessa forma, a narrativa busca sempre ser uma interlocução entre passado e presente, chegando até os primórdios de como o surgiu o basquete, por exemplo, ou até mesmo outras formações dos Hoops, gerando as relações com os atuais jogadores e seus dramas, especialmente, sobre o futuro, visto que muitos estão no último ano antes de irem para faculdade.

Gene Luen Yang estabelece essas personas sempre como figuras em cheque, que estão lidando com uma pressão no qual é impossível de realmente saber. O professor Lou é um dos grandes casos, como alguém que parece alguém legal, e que sofre com o trauma de ter pedido já uma disputa pela equipe colegial. Só que, os que mais se destacam, são Ivan e Paris, dois jogadores amigos desde a infância e que, apesar da excelência no esporte, são completamente diferentes. Eles observam no olhar de alguém de fora, que tem um tratado quase jornalístico a todo tempo, como mais uma possibilidade de julgamento, criando uma condição dramática interessante para a própria história.

Apesar de extremamente dividido e sempre alternando os lados históricos e a atualidade dos protagonistas, a HQ também tem uma forma curiosa quase aleatória ao colocar os acontecimentos. Isso se deve muito a narrativa gráfica de Yang, que constrói tudo quase como uma obra de ficção, com seus momentos mais reflexivos, grandiosos e outros de tensão. É como se, apesar de buscar um tratado fiel e realista dessas figuras, é como se eles fossem parte de um grande filme, que precisava ser contado dessa maneira. Até porque, no fim contas, as temáticas que envolvem esporte são quase sempre similares.

Sempre buscando parecer muito maior do que realmente é, especialmente nessa busca sobre as emoções, Dragon Hoops pode até mesmo soar forçado ou piegas para alguns. Entretanto, seu lado mais forte é realmente ao se expôr como uma narrativa sobre figuras em busca de um objetivo em comum. Só que, para além de jogadores, também como pessoas. E, para além do esporte, na própria vida. De que forma o basquete poderá ser realmente a maneira de se superar? Ou seria apenas uma diversão passageira? Difícil apontar certezas.

Comentários

Cláudio Gabriel

É apaixonado por cinema, séries, música, quadrinhos e qualquer elemento da cultura pop que o faça feliz. Seu maior sonho é ver o Senta Aí sendo reconhecido... e acha que isso está mais próximo do que se espera.

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