Te Peguei! é uma divertida, mas esquecível comédia
Fazer as pessoas rirem é uma tarefa sempre complicada para um comediante. A risada se trata de uma total quebra de expectativa quando se conta uma história ou vive-se uma situação. Assim, o humor acaba sendo diferente, atingindo cada pessoa de formas variadas, isso pode variar de um stand-up comedy ou assistindo a um filme.
Te Peguei! leva essa ideia para dentro da vivência de cada pessoa, com lembranças sobre brincadeiras e atitudes que tínhamos quando crianças. Na história, cinco amigos mantém uma brincadeira desde a época escolar, na qual brincam de pique-pega, mas um deles nunca foi pego por ninguém. Os outros quatro, então, se reúnem para aproveitar a oportunidade perfeita de finalmente fazer o amigo perder o jogo. É a partir daí que a trama consegue gerar uma identificação com o público, afinal quem nunca brincou de pique-pega?
O humor físico é extremamente explorado aqui, já que a brincadeira exige isso. Perseguições, batidas de carro, correria, fingimentos, entre outras, são explorados ao máximo para gerar um ambiente de comicidade frequente, onde os protagonistas precisam realizar essa ação. Hoagie (personagem feito por Ed Helms) é o carro-chefe ali, sempre buscando pegar Jerry (feito por Jeremy Renner) e criando planos mirabolantes a cada novo ano – essa brincadeira acontece entre eles sempre no mês de maio. O roteiro é perspicaz em gerar uma identificação, mesmo que pequena, do público com eles, com diversos flashbacks ou conversas expondo situações antigas, algo que gera uma imediata conexão com a criança interior de cada um. Isso, do mesmo modo, é aprofundado pela participação conjunta da jornalista Rebecca (interpretada por Annabelle Wallis), que busca realizar uma reportagem sobre a peculiar história do grupo e os motivos dela ser mantida mesmo depois de todos crescerem e se tornarem adultos.
Como dito acima, o humor irá atingir cada pessoa de forma diferente, porém é utilizado um clichê de longas do gênero – principalmente os que envolvem homens – ao tentar gracejar sobre pintos, ânus e mais. Torna-se algo bobo, perdendo o investimento nos diálogos, sendo a cena da academia o maior exemplo disso. Também pode-se entender isso como algo intrínseco aos personagens, já que eles agem como crianças em muitos momentos. Todavia, isso não se aplica apenas às atitudes desses, mas são levantadas como piadas recorrentes para algumas sequências, quando realmente não funciona.
Um dos aspectos mais explorados dentro da obra é a amizade, algo desenvolvido de forma até bonita pelo diretor Jeff Tomsic, acostumado a dirigir stand-up. Essas situações, principalmente as misturas entre o passado e o presente, geram um senso de uma quase família, ocorrência essa que acaba sendo o fator primordial para um envolvimento emocional de quem assiste na sequência final. Entretanto, isso também acaba ocasionando em erros de continuidade e uma falta de desenvolvimento ou entendimento para outras participações na narrativa, ficando ainda mais claro no antigo envolvimento romântico com Cheryl (Rashida Jones), algo que acaba sendo deixado de lado ao final.
Essa nostalgia interna ainda é corroborada dentro da ambientação fílmica e na construção das personalidades. Um dos maiores exemplos disso são as músicas, quase sempre mais antigas e com um hip-hop suave – típico do final dos anos 80 e início dos anos 90. Além disso, as roupas utilizadas pelo quarteto principal, algo que vai aparecendo aos poucos no personagem de Renner, é sempre mais despojada e fora de moda, fora dos tempos atuais. Por fim, uma excelente representação se encontra no ambiente quase de um QG da casa de Hoagie, sempre havendo lembranças infantis, chegando ao ponto do longa realizar até uma brincadeira em cima disso.
Te Peguei! é divertido em sua simplicidade única. Não tem grandes intenções ou objetivos, mas consegue criar uma identificação com a audiência rara para o gênero da comédia, apesar de quase sempre muito necessária. O elenco com nomes peso (além dos já citados Jake Johnson, Isla Fisher, Jon Hamm e Hannibal Buress são os que completam o grupo principal) sustentam um roteiro cheio de convenções, mas convincente. Não será um filme memorável daqui a algum tempo – ainda mais em ano onde tivemos A Noite do Jogo -, porém consegue se estabelecer com algo diferente dentro de um meio tão comum.
3.0
Resumo
Apesar de ser bem clichê, consegue se diferenciar em um inesperado drama e em situações hilárias.