Crítica – GLOW (3ª temporada)

Sem nenhuma fanfarra ou grande estratégia de marketing, uma das melhores séries da Netflix retornou para mais 10 episódios. A terceira temporada de GLOW estreou no último dia 9, e o show continua tão divertido como antes, mas sem deixar de lado os aspectos mais dramáticos da vida das lutadores, na qual enfrentam novos desafios agora em Las Vegas. O lugar é a nova casa da produção após os eventos da segunda temporada.

O novo cenário oferece uma bem vinda mudança de ares a série, que antes se preocupava muito mais com os desafios de criar e manter uma audiência para o show fictício. Agora, que eles contam com um contrato fixo para realizar o show, os problemas da produção não possuem tanto destaque, e o drama dos personagens ganham espaço. GLOW sempre foi muito hábil em conduzir as histórias do vasto e diversificado elenco e isso é reforçado nesta temporada, mesmo que para isso antigas “estrelas” nas apresentações tenham menos tempo no holofote. Era inegável que o trio de Sam (Marc Maron), Ruth (Alison Brie) e Debbie (Betty Gilpin) carregava muito do protagonismo do seriado. Agora, é possível revelar isso como menos evidente, pois o foco não se encontra mais no show em si, mas sim no como essas pessoas lidam com essa nova fase.

Como consequência, as cenas de luta livre são pouquíssimas nessa temporada, o que não deixa de ser uma pena, mas que faz sentido dentro da nova perspectiva. Contudo, as lutas ainda afetam a história de modo significativo, especialmente nas sequelas que estas deixam no corpo e na identidade de algumas lutadoras, como Tammé (Kia Stevens), na qual passa a ter um grave problema de coluna, e Jenny (Ellen Wong), que entra em conflito com os estereótipos que interpreta no ringue.

Esses pequenos conflitos pessoais formam o cerne de GLOW, passando menos pelo todo no arco central, mas sim a ser movido pelos dramas individuais e as conexões que essas pessoas formam umas com as outras. É refrescante observar que poucos personagens permanecem estáticos ou presos a antigas brigas, como Ruth e Debbie, que aos poucos começam a reaver a antiga amizade, mas ainda com certos atritos, ou Sheila, passando a questionar sua persona de Mulher Lobo e tem um dos arcos mais radicais nesse ano.

Algumas subtramas, no entanto, acabam sendo descartadas ou apressadamente resolvidas. Em uma cena, Debbie aparenta estar desenvolvendo um transtorno alimentar, de modo a se manter em forma para as lutas, entretanto em nenhum outro momento isso vem à tona ou a afeta de qualquer modo. É uma pequena sequência que poderia ser descartada sem grandes perdas. Novos personagens também lutam para ter um espaço significativo, como Sandy St. Clair (Geena Davis), a dona do cassino que hospeda o show, e Bobby Barnes (Kevin Kahoon), artista de drag em que atua em outra atração do cassino. Apesar de terem boas cenas, especialmente no episódio 9, suas aparições são muito pontuais para acrescentar algo ao universo da série.

A produção do show continua impecável, com sets, figurinos e penteados transportando o espectador para os anos 80. É uma pena que, visualmente, o show não se arrisque muito, contando com uma fotografia um tanto sem graça e sem contraste. Ao se passar em Las Vegas, era de se imaginar que o show apostasse em uma fotografia mais exuberante para marcar a mudança para uma cidade cheia de neon e holofotes, mas o interior de um casino e fotógrafado do mesmo jeito que um acampamento a céu aberto, resultando em um visual um tanto “chapado” e sem destaque. Faltou a esta temporada um episódio mais arriscado para contar a história, como “A Irmã Boa”, oitavo episódio da temporada passada, na qual se passou inteiramente através de comerciais de TV.

É preocupante ver a pouca atenção que a Netflix dá a um de seus melhores shows. O final desta temporada posiciona os personagens para histórias empolgantes para o futuro, e seria uma grande pena caso ela acabe sendo cancelada. Se tem uma série que vale a pena acompanhar e torcer pelo sucesso, esta é GLOW.

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