As bandas precisam vir todo ano ao país?
Houve já um tempo sombrio na vinda de bandas as terras brasileiras. A década de 80, período findouro da ditadura militar, marcou ainda uma intensa repressão aos mais diversos grupos. Entretanto, em 1985, o empresário Roberto Medina realizou o Rock in Rio, se transformando em um dos maiores festivais de música do mundo. Espalhando por Portugal, Espanha e, mais recentemente, Estados Unidos, a marca se tornou global. O Rio se tornou global. Dessa maneira, o Brasil entrou no mapa da primeira arte.
Toda essa força voltou de maneira impressionante no início dos anos 2010. Em 2011, o Rock in Rio retornou a ter uma edição de dois em dois anos no Brasil, após uma década. Em 2012, o Lollapalooza ganhou uma edição nacional, trazendo anualmente grandes nomes do pop, rap e rock independente. Assim, o país tupiniquim se transformou em um dos grandes mesmo para a vinda de artistas internacionais. A força do k-pop aqui deixou isso só mais claro.
Entretanto, esses últimos tempos também mostraram um problema: mesmo com diversas bandas no mercado, muitas estão se repetindo. É o caso do Red Hot Chili Peppers, The 1975, Metallica e mais. Essa questão se apresenta como um grande problema: será que tais bandas precisam vir realmente todo ano ao país? Será que houve um afunilamento ou simplesmente está ocorrendo uma preguiça de buscar novos nomes?
Bom, é importante começar pensando sobre a desvalorização dos grupos daqui. Mesmo com alguns possuindo certo destaque – caso de Los Hermanos -, a grande maioria se tornam renegados para os festivais. O foco acaba sempre sendo nos já comentados, sem uma abertura de espaço.
O mesmo acaba acontecendo com a vinda do exterior. Como é possível perceber, o foco acaba sendo nos mesmos nomes. Não existe uma exploração dos demais mercados, apenas caso esses representarem shows maiores. Um caso bem claro é da dupla franco-cubana Ibeyi. Elas só se apresentaram aqui pelo simples fato de terem tido um sucesso mínimo fora. O espaço para arriscar é cada vez mais nulo, menos fortalecido.
Ainda é possível de aplaudir duas tentativas realizadas aqui. A primeira é do próprio Rock in Rio. Mesmo com alguns erros de percepção (como a questão da repetição em 3 edições do Metallica como headliner), ainda tem acertado com as misturas de bandas em alguns palcos. Talvez o maior digno de nota ebtre todos tenha sido a junção entre o Sepultura e o Les Tambours du Bronx. É com essa mistura que se torna passível a apresentação de novos concertos para os fãs de gêneros na qual já ama.
A segunda é a iniciativa extremamente interessante do Queremos. Ao ouvir uma audiência interessada mais nos lados alternativos da música, a empresa propõe uma entrada de novidades do mercado e nomes diferenciados. Obviamente, como nada é perfeito, alguns erros ainda são cometidos. A repetição acontece, o eixo acaba se concentrando inteiramente no Sudeste. É uma tentativa de trazer algo novo, sempre necessário para esse tipo de indústria. O meio fonográfico precisa sempre expandir seus horizontes.
Mas, por quê?
Mesmo com todos esses pontos apresentados, ainda acaba por ser preciso voltar a origem. Entender como essa questão funciona é fundamental para entender a problemática levantada na origem desse texto.
Tudo passa pelo lado financeiro. Não vivemos em um mundo que se trazem artistas simplesmente por filantropia, mas sim por um sentido econômico, de conseguir lucrar em cima de determinado nome. Caso as expectativas não sejam atingidas, menor a possibilidade de retorno para o Brasil. As empresas (produtoras) precisam entender tudo na qual os fãs estão ventilando. Não adianta apenas o interesse de um único indivíduo, porém de uma parcela de aficionados.
Com isso em mente, o caminho para a elucidação se abre ainda mais. O lado financeiro pesa bastante, ainda mais em um período de anos em crise enfrentados pelo nosso país. Esse investimento conservador em bandas é totalmente prático, visto que ele dará retorno com total certeza. É uma taxa de pouca tentativa em quebrar uma corrente, todavia dando um valor de arrecadamento valorizado para o período.
Toda essa discussão acaba também sendo um reflexo do próprio público. Quem não ouve música, não é mesmo? Mas, quem ouve músicas diferentes? Quem busca coisas novas? As bolhas sociais das mídias sociais e os algoritmos nos colocaram em uma berlinda de consumo igual e repetitivamente. É um fluxo contínuo, quase temporalmente, por assim dizer. É uma espécie de transformação dos consumidores em robôs, buscando as mesmas coisas a todo instante. Não nos permitirmos ir além, pela simples comodidade apresentada.