Crítica – Sintonia (1ª temporada)

Kondzilla é, definitivamente, um dos nomes mais comentados na música mundialmente. O fato dele ser brasileiro e produzir funk só trazem ainda mais um ideal do nosso papel cultural pelo planeta. Bom, o astro produtor e músico foi convidado pela Netflix e agora realiza uma série para chamar de sua. Sintonia não é diretamente inspirada em história nenhuma, apesar dele comentar que tem uma baseia em acontecimentos de pessoas próximas ao mesmos, na qual ele viu aonde cresceu. A busca por um DNA pessoal dessas figuras tem por objetivo olhar com esperança para o futuro das pessoas em comunidades carentes.

Nisso, a história tem como fio condutor três jovens. Nando (Christian Malheiros) trabalha em uma boca de fumo e busca ser traficante, Rita (Bruna Mascarenhas) busca uma vida melhor e acaba se encontrando com a religião e Doni (MC Jottapê) busca ser um MC de sucesso. Nessa base, em uma vida no meio da favela, misturando o lado da violência com o tráfico, a religião e a busca dos sonhos, a obra tem seu teor principal trabalhado.

Por buscar trabalhar um sentido bem próprio desse universo apresentado das comunidades, a série tem um diferencial estético bastante único. A edição frenética, os visuais sempre bastante cinzas e certas brincadeiras visuais traçam uma narrativa bem particular. Um desses exemplos são as mensagens de texto e voz trocada entre os personagens, na qual aparecem ao lado como uma espécie de observação por parte do público. Essa questão trabalha um lado meio comum, cotidiano e até tem por foco trazer esses personagens para um lado mais realista. No fim, a intenção mais clara é uma afeição de quem assiste com essas figuras, em muitos casos moralmente condenáveis. Nesse contexto, a trama sabe bem como não ser preto ou branco, mas gostar de abusar das camadas de cinzas presentes com os jovens.

Isso, no entanto, acaba por decair na grande problemática de um certo clichê por parte do roteiro. Apesar de ser baseado em um lado mais verdadeiro, falta um certo traço maior de desenvolvimento de algumas questões internas para não soar quase genérico. Talvez o ponto mais sensível nisso fique em torno de Nando, devido ao seu envolvimento no tráfico. Em certos períodos, o seriado busca até mostrar como funciona certos linguajares e até códigos internos de apresentações, todavia acaba soando muito superficial. O enfoque nesse protagonista coloca simplesmente um entendimento do próprio de todas essas relações, porém sem apresentá-las a audiência. Outro lado de certo incômodo também está em Doni, pelo fato de simplesmente conseguir entrar em uma indústria de música facilmente. Falta um maior desenvolvimento das engrenagens dessa.

Esses fatores estão aliados aos poucos episódios dentro da produção. Com apenas seis capítulos apresentados nessa primeira temporada, o desenvolvimento dramático de cada um dos personagens acaba por ser o fator maior dentro da narrativa. É devidamente bem realizado, especialmente pelo envolvimento emocional colocado em torno de algumas situações específicas (Doni com seu pai, Rita com a melhor amiga). Entretanto, esses pequenos lapsos acontecem em um universo que se propõe de algo muito maior do que realmente aparece em tela.

A primeira temporada de Sintonia é bastante diferencial em buscar uma mensagem positiva ao fim de tudo. Existe um lado social bastante claro apresentado pela busca de fugir da vida de criminalidade e morte eminente nas favelas do Brasil. Kondzilla parece ter esse quesito bem direto na sua cabeça. Apesar disso, é uma série na qual necessitaria um maior trabalho das diversas buscas pessoais, especialmente pelo fato de não seguir a linha de apenas um. Apesar de alguns elementos serem apresentados de forma bem chamativa – a questão da fé de Rita, por exemplo – eles acabam sendo muito mais apagados pelo entorno.

Comentários

Cláudio Gabriel

É apaixonado por cinema, séries, música, quadrinhos e qualquer elemento da cultura pop que o faça feliz. Seu maior sonho é ver o Senta Aí sendo reconhecido... e acha que isso está mais próximo do que se espera.

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