Capitã Marvel: A peça que faltava no MCU

Recentemente foi feito um estudo que mostra que a presença de protagonistas femininas nos filmes de maior bilheteria aumentou em 31%. O cenário cinematográfico é liderado por homens brancos em todas as suas ramificações, principalmente em filmes de super-heróis, portanto é difícil fazer um filme com uma minoria no protagonismo sem ser politizado. Assim, como não é possível realizar um filme como Pantera Negra sem falarmos de racismo, simplesmente não é verossímil um longa de uma heroína sem empoderamento feminino, você gostando ou não. Não se vê mulheres numa posição de poder com grande frequência, a influência que um blockbuster com uma protagonista feminina tem sobre as pessoas, principalmente crianças, é vasta, então já aviso: é no mínimo ingênuo fazer uma crítica sobre esse filme sem discorrer sobre a visão que ele quer passar.

Capitã Marvel se inicia com a protagonista no planeta dos Kree, em uma missão de resgate, ela e sua equipe acabam em uma emboscada dos Skrull levando Carol Danvers de volta à terra onde vai descobrir mais sobre seu passado. O filme é diferente do que é apresentado nos trailers, mas contido ali na fórmula Marvel (talvez o medo de ousar tenha deixado um pensamento de que poderia ter sido melhor, ou a expectativa alta de finalmente vermos algo inédito), mas é claro que não anula seu desempenho ou sua qualidade. De fato, se assemelha a Capitão América: Primeiro Vingador, afinal, contar a origem desses personagens é contar a origem de seus poderes, que inclusive [spoiler] vieram de Mar-Vell, mas não como conhecemos nas HQs, alguns personagens foram mudados e reduzidos para caber no MCU. Agora reflita: seria legal se no primeiro filme solo de uma heroína da Marvel os poderes dela virem de um homem? Pode ser apenas algo inofensivo para alguns, mas não é, é um ponto válido e o fato deles terem tido o cuidado com isso foi genuíno [fim do spoiler].

Carol é debochada, perspicaz e sente prazer em estar numa briga, mas sem cair no estigma de personagem feminina forte arrogante. Brie Larson está brilhante e confortável no papel, talvez o ódio direcionado a atriz seja justamente porque a protagonista precisou reprimir suas emoções, aconselhada a esconde-las porque só assim ela seria forte o suficiente, nenhum pouco diferente do que as mulheres sofrem em seu cotidiano, sendo obrigadas a esconder seus sentimentos senão nunca serão levadas a sério ou respeitadas numa sociedade machista. Mas, apesar de se retrair, ela continua tendo muito carisma e senso de humor. A mensagem do longa é sutil e necessária, sobre força e nunca desistir mesmo que o mundo diga que você não é bom o suficiente.

Falando em personagens, não posso deixar de destacar o papel de Samuel L. Jackson que interpreta um Fury mais inocente e entusiasmado, não tem o que reclamar sobre a química e a parceria dele com a Capitã. Também necessito enfatizar Bem Mendelsohn, que surpreendeu com seu personagem sarcástico e extremamente engraçado, e de quebra ainda ajuda a trazer um importante debate sobre refugiados. Senti falta de uma presença maior de Maria Rambeau, melhor amiga de Danvers, mas nos proporcionou ótimos momentos em sua curta participação. E claro, Goose, a gata, não existiria filme sem essa gata que roubou todas as cenas. Além do combo de personagens incríveis, a produção tem bastante influência de longas dos anos 90, com uma a trilha sonora noventista notável e umas piadas bem boas sobre o contexto da época, sim, tem piada na medida certa, é um filme divertido, mas sem exagerar no humor.

Apesar das cenas de luta não impressionarem, há cenas nas naves bem caprichadas que chegam a lembrar guerra nas estrelas. O filme se preocupa mais com o roteiro e em encaixar sua história -que faz perfeitamente- com todos os acontecimentos e ainda coloca uma cerejinha em cima do bolo, além de expandir o universo espacial, ele dá uma boa justificativa ao sumiço de Carol Danvers todos esses anos, é o filme que o universo cinematográfico da Marvel estava precisando. E mesmo que ela só tenha conhecimento de todo o seu poder no último ato, é impressionante o que ela pôde fazer em pouco tempo, ou seja, Thanos que se cuide.

A respeito do que todos querem saber: a primeira e única relevante cena pós crédito é um baita fan service que vai deixar todo mundo mais empolgado para Vingadores: Ultimato.

Comentários

Ana Barbosa

Estudante de Jornalismo, feminista e enaltecedora de mulheres na arte. Viciada em séries, principalmente em Doctor Who, compra mais livros do que consegue ler e não recusa um café. A típica canceriana que chora em todos os filmes que assiste, ou pelo menos quase todos.

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