Coluna do Pedro | O melancolicamente e belo folklore
O tédio da quarentena tem efeitos diferentes sob as mais diversas pessoas. Em mim, passo meus dias sem entender muito bem o que tá acontecendo, trabalhando e estudando no automático, além de meio perdido e entorpecido de saudade da antiga vida. Mas, em Taylor Swift, essa questão se transforma no seu segundo álbum em menos de 1 ano e, ouso dizer, um dos melhores de sua carreira.
Uso o termo tédio – sim -, porque dessa vez (por incrível que pareça) não temos nenhuma fofoca da vida pessoal de cantora para conseguir fazer um link com as músicas. A própria já falou que as letras surgiram de surtos de sua cabeça e histórias que a doida inventou. Isso é muito interessante, considerando que são letras extremamente profundas, lindas e parecem pessoais até demais. Mas acho que ser artista é isso, né? Trazer beleza dos surtos que sua cabeça tem.
Mas não dá pra falar que foi tudo criação e imaginação, já que uma teoria muito interessante dos fãs é que certas canções foram inspiradas na história de Rebekah Harkness, uma socialite que morou na mansão que a Taylor é proprietária hoje. A inspiração mais óbvia é a musica “the last great american dynasty“, onde a cantora realmente descreve um pouco da vida da mulher. Mas uma coincidência, não tão coincidência assim, é que o apelido de Rebekah era Betty.
“betty” é uma das músicas que fazem parte da História de Triangulo Amoroso que a cantora escondeu em certas músicas do disco. As letras de três faixas se complemento contando uma história de uma pessoa que está sendo traída, uma que está traindo e outra que é a amante. É muito divertido ficar observando a letra e tentando entender o que estava passando na cabeça da loirinha. Só que os fãs já fizeram o trabalho deles e descobriram que faixas são essas: junto da citada anteriormente, está a linda “august” e o lead single desse projeto, “cardigan“.
Essa última que é um capítulo a parte desse álbum. Quando foi anunciado, já sabíamos que viria junto com um clipe dessa música e é O clipe. Ao mesmo tempo que é delicado, é uma explosão de produção e efeitos visuais, passando a visão artística que a Taylor teve nesse projeto. Enquanto ecoa nos nossos ouvidos “When you are young, they assume you know nothing” nos nossos olhos observamos a cantora se dedicar ao piano até que sai uma cascata de dentro dele. São emoções demais para conseguir transcrever em tão poucas palavras. Só vendo para poder entender.
Na verdade, essa frase define todo o álbum. Em uma montanha russa de emoções, as letras de Swift nunca trouxeram um cenário tão claro na mente do ouvinte. Mesmo que sempre visual em sua escrita, a cantora aqui atinge um patamar lírico absurdo para um ato pop. É artístico, nostálgico, emocional e bem feito. Acompanhar as as 16 canções é ser levado numa jornada que vai ser diferente para cada um.
Isso não seria possível se não fosse a produção impecável de cada faixa. Taylor resolve dar um descanso para Jack Antanoff e o chama para poucas, com destaque para a minha preferida de todo o álbum: “ilicit affairs“. Dessa vez quem toma as rédeas do projeto junto com a artista é Adam Dessner, que está presente tanto em composições quanto nas produções – muitas assinadas por ele sozinho. Para quem não sabe, Dessner é um dos criadores da banda de indie rock The National. Ele leva Taylor para um outra sonoridade, quase totalmente oposta do que ela já havia feito no seu ótimo Lover.
Outra parceria muito positiva foi a de Justin Vernon, do Bon Iver, na surreal “exile“. Mais uma das faixas que contam uma história e o contraponto da voz super grave de Justin, com a doce e fina da artista pop, o que dá ainda mais profundidade para toda a composição.
Enquanto nesse CD anterior era transmitida uma positividade, com muitas cores e batidas animadas no melhor do bubblegum pop, em folklore nos vemos diante de um instrumental mais próximo do folk, com uma melancolia tão bonita, de um jeito que nunca foi visto a Taylor fazer. É para mostrar que, mesmo dentro de uma personalidade e identidade artística muito bem formada, existe espaço para criar e transformar a si mesma.
folklore é um trabalho diferente, cheio de excelentes músicas e, mesmo que bem grande, nada ali parece descartável ou fora de lugar. Transformando os sentimentos trazidos por uma pandemia e o clima tenso do mundo em arte, Taylor Swift coloca em sua discografia um trabalho que será lembrado como um dos melhores, se não o melhor, criado nesse período. Não existe um sistemas de notas nesse site, mas, se existisse, esse sem dúvida ganhar o máximo de estrela possível.