Crítica – A Resistência de Inga
Definitivamente, a morte é algo complexo. Ainda mais quando está relacionada a uma questão familiar, quando ocorrem brigas em torno da herança e mais. Isso já foi explorado muito no cinema, para ambos os lados, tratando de uma condição quase psicológica sobre morrer, além de disputas judiciais. Mas e se a morte despertasse um sentimento relacionado a injustiças sociais? Isso também está presente na sétima arte e no mundo real, claramente, como revoltas sociais pelo falecimento de militantes, por exemplo. E se isso fosse em torno de uma região da Islândia, na forma de como uma mulher tentasse entender como administrar uma fazenda após seu marido ir. Como entender e lutar perante a corrupção das grandes corporações?
Assim, inicia-se A Resistência de Inga. Ela acaba ficando viúva após seu esposo falecer de um acidente no caminhão, na qual transportava alimentos para vender na fazenda da família. Inga (Arndís Hrönn Egilsdóttir) acaba precisando assumir tudo, buscando entender como administrar uma fazenda do início ao fim. Assim, ela entra em guerra com uma companhia local que domina todo o abastecimento de alimentos da região, possuíndo uma grande força econômica e de corrupção naquela cidade. A mulher, então, vai contra tudo e contra todos em busca de justiça.
Grímur Hákonarson coloca na direção uma história em busca dos silêncios. Começamos vendo um plano de Inga andando por seu celeiro, retirando o filho de uma vaca que está grávida. Ali, vemos como a personagem está solitária naquele lugar todo, mesmo ainda com a presença de seu marido – antes dele falecer. O que predomina em todo esse universo são os silêncios, quase ensurdecedores para o público, porém aceitáveis a Inga. Ela parece aceitar tudo a sua volta, aceitar quase uma eminente solidão. Dessa forma, a câmera de Hákonarson vai mais a fundo e tenta explorar o porque dessa protagonista modificar após o fato consumado.
Não há uma intenção de trazer respostas sobre essa pergunta, porém sim entender as soluções tratadas pela personagem. Quando vemos ela olhar para seu marido ao fazer reconhecimento do corpo, é possível perceber uma questão de quase um auto entendimento. Desse jeito, a partir desse instante, os planos tornam-se cada vez mais abertos, quase como se fosse possível observar uma nova fazenda, uma nova característica dela em cada pequeno espaço. Ao mesmo tempo que a noite, antes pacífica, é transformada em uma catástrofe, pelos ataques constantes da empresa a sua figura.
Apesar disso tudo, falta uma busca maior por saber como utilizar sua discussão temática. A trama parece, em sua metade, ser bastante circular, fato que quase inativa o sentido de estarmos tratando de um longa. Os momentos de silêncio, apesar de sempre revigorantes a figura dessa “heróina”, são cada vez mais constantes, enquanto existe toda uma questão política acontecendo. Ao fim, parece quase possível perceber que muito pouco foi assistido. Não existe um verdadeiro problema sobre isso, caso fosse uma proposta apresentada inicialmente. Entretanto, parecemos ver uma obra sem quaisquer busca de uma discussão maior. Quando há uma tentativa de trazer isso quase como um DNA política do país, esse mesmo debate acaba sendo esquecido na sequência posterior.
A Resistência de Inga acaba soando um pouco a mais do que sua proposta inicialmente seria. Ao tratar quase exclusivamente sobre os sofrimentos e percalços de sua protagonista, a obra acerta em trazer levantamentos menores, mas totalmente potentes. Por isso, a falta de som nos diversos instantes é tão importante, afim de trazer um sofrimento de uma luta individual ainda maior. Apesar disso, o filme tenta debater tudo a sua volta, trazendo os elementos políticos maiores em torno das dicussões. Nesse instante, a obra parece ultrapassar dos limites que havia proposto. E se essa mescla funciona? Bom, para retratar a resistência dessa personagem, é impossível dizer que não.