NOS4A2 e a releitura dos vampiros
Já renovada para a segunda temporada, NOS4A2 finalizou sua primeira em um ritmo quase alucinante. A história, baseada em um livro de Joe Hill, busca recontar a históira do Drácula, ou, mais especificamente, do Nosferatu, sua quase cópia feita no filme de 1922, de F. W. Murnau. Ali, foi estabelecida uma nova maneira de buscar a história de vampiros celébres, sempre criando uma mitologia gigantesca em torno deles. No caso da série aqui falada, isso é feito também. Nesse mundo, não existe apenas um ser habitando em um castelo recluso da sociedade. Essa figura, na realidade, está intrínseca a humanidade, vivendo entre poros e vielas.
Nesse ponto é que a trama apresenta Charlie Manx (Zachary Quinto), o tal nosferatu, um ser com uma idade extremamente avançada, porém vivendo sob uma aparência jovem eternamente. Para ficar assim, alimenta-se de almas das crianças, as transformando, também, em vampiros para sugarem outras almas – e assim por diante. O problema acontece quando isso acaba por ser atacado devido a presença de Vic Queen (Ashleigh Cummings), a protagonista aqui. Ela acaba descobrindo um poder de comunicação com Manx, além de conseguir transitar até sua realidade e o mundo normal dos humanos.
São 10 episódios construídos a buscar um senso de angústia constante. Apesar de não haver um direcionamento total, quem leva essa linha narrativa são os roteiros de Jami O’Brien e Lucy Thurber. Ambos conseguem levar o público a sempre estar na expectativa para qualquer acontecimento. O fator surrealista e bastante realidade da figura de Manx, o torna sempre imprevisível em ações realizadas. Suas mortes/rapturas sempre acontecem sob a luz do dia e até uma aparente tranquilidade, no entanto sempre são colocadas em paralelos confusos sobre realidade. Os personagens não sabem bem se estão realmente ali, nem se estamos caminhando ou vivendo em uma direção certa.
O problema é a forma dessa narrativa transportar isso. Funciona extremamente bem durante os dois primeiros episódios, quando somos apresentados a esse universo e não conseguimos entender bem a maneira dos pequenos personagens se comportamente. Assim como funciona também de um jeito conciso durante o grande clímax da produção, pelo fato de estarmos dentro daquela trama. Entretanto, no meio dos acontecimentos, tudo parece sem ter um caminho direito aonde formar. Certos elementos são abertos, para não serem fechados depois e ainda retornarem ao fim sem ter maiores conclusões (o caso da personagem Maggie Leigh, feita por Jahkara Smith).
Acima de tudo, o maior destaque fica em torno da figura de Charlie Manx. Sua situação misteriosa, sempre mudando de pensamentos e atitudes, por exemplo, funciona para gerar um clima onipresente de dúvida sobre suas atitudes. Isso fica ainda mais interessante quando a narrativa abraça de vez um lado de misturar a loucura de suas formas. Quando ele muda de ficar mais velho para mais novo e vice-versa, traz um jeito intrigante de como o público irá entendê-lo. Ao mesmo tempo, também, vemos os personagens interessados na atitude desse ser. Seria ele humano, vampiro de verdade? A confusão em torno de suas diversas formas e figuras, funcionam como uma nova maneira de vermos ele. Sua curiosidade instiga, mas causa medo.
Desse jeito, NOS4A2 mostra-se como uma série única nos seus pequenos elementos. Apesar de possuir boa parte de seus episódios medianos confusos, sem saber para qual caminho entrar, suas pontas elevam a narrativa como diferenciada, ainda mais na produção de terror para a TV na atualidade. Se estamos em falta disso, enquanto no cinema vivemos um período auge, talvez um seriado como esse possa elevar um pouco a discussão e trazer novidades. Isso só demonstra como os vampiros tiveram a frente de tudo, em todos os instantes.