Crítica – A Teacher

Histórias de relacionamentos proibidos fazem parte fundamental da humanidade como um todo. Casos de questões extraconjugais talvez sejam um dos temas mais frequentes que a arte já abordou. A natureza animalesca humana faz com que coisas do tipo aconteçam, e que o emocional se sobreponha ao racional. Tais elementos, todavia, precisam estar dentro do regimento das leis. Caso passem, problemas de justiça e morais, entre outros, podem acabar aparecendo e causando lados maiores. O cinema explorou isso de forma bem impactante no longa A Professora de Piano, de 2001, dirigido por Michael Haneke. Talvez o mundo das séries tenha demorado a conseguir algo que trabalhasse tais pontos com tanto impacto anteriormente quanto A Teacher.

Dentro da produção de 10 episódios, acompanhamos o desenvolvimento da relação entre a professora de inglês Claire Wilson (Kate Mara) e o jovem estudante Eric Walter (Nick Robinson). A primeira que começa a perceber meio desiludida com o relacionamento estranho com Matt (Ashley Zukerman), em que ambos parecem ter ideais para o futuro e vidas diferentes. Já o segundo, no auge do seu momento de aproveitar a vida, tenta ir atrás de alguém com quem possa construir uma relação mais profunda. Assim, Claire começa a ajudar Eric para uma prova de vestibular, o que acaba aproximando fortemente os dois.

A cineasta e showrunner Hannah Fidell aproveita conceitos para a minissérie de um filme feito pela mesma em 2013. Dessa forma, a direção tem um olhar sempre que expressa um lado de desilusão de mundo, em planos que estão sempre percorrendo espaços atrás de alguma coisa pelo qual nunca sabemos o que é. Curioso como até mesmo tais questões aparecem fortemente no momento que os dois começam a se relacionar, como se a forma que a produção é feita tenha uma ciência da complexidade presente ali. Não é nada concreto, mas sim totalmente líquido, que pode se desmanchar facilmente e com diversos lados envolvidos.

Contudo, é curioso como a seara moral aparece de um jeito bem menos incisivo. É algo que percorre a narrativa nos pequenos elementos, seja em diálogos no qual se finge não estar acontecendo nada, até um caminho mais direto, como no julgamento da esposa do irmão de Claire, Nate (Adam David Thompson). Só que esse ponto não é realmente o local em que os episódios querem caminhar, apesar de ser inevitável abordar o aspecto. O mais sugestivo aqui é realmente essa busca por uma fuga de mundo por parte dos dois protagonistas. A sequência em que eles estão em uma fazenda talvez seja a mais clara disso, que perpassa de uma liberdade até um lado passivo-agressivo do relacionamento.

O grande ponto de A Teacher é realmente explorar as complexidades em um estudo de dois personagens. Não a toa, a produção está apenas atrás dos olhares neles. Não existe espaço muito grande para demais figuras, visto que o mundo desses dois acaba sendo o fator que traz a falta de respostas. Não são protagonistas puros, diretos, que podem simplesmente não ter escrúpulos ou quaisquer pensamento digno de uma moralidade mundana. Eles se vêem como algo maior, sem pensar nas perspectivas que o cotidiano e a vida em sociedade irá trazer.

Hannah Fidell entende bem nos pontos que pode tatear. E gosta até mesmo de passar de um padrão aceitável a um debate sobre a temática. Do ponto de vista judicial, é curioso como a obra não tenta ir afundo, o objetivo não é esse. Até porque o relacionamento errado existe em A Teacher como uma simples forma de expressão dessas pessoas. No fim das contas, o que é verdadeiramente proibido nunca deixa de ser proibido. Mas é por isso que a humanidade não pode ser definida como algo simples.

Comentários

Cláudio Gabriel

É apaixonado por cinema, séries, música, quadrinhos e qualquer elemento da cultura pop que o faça feliz. Seu maior sonho é ver o Senta Aí sendo reconhecido... e acha que isso está mais próximo do que se espera.

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