Crítica – América Armada

As armas viraram um tema de constante debate recente pelo mundo. Espificamente no Brasil, as constantes liberações de maior porte para a população civil por parte do presidente da república Jair Bolsonaro causaram sempre bastante controvérsia. Afinal das contas, as armas por si só não são um problema, mas sim como elas serão usadas. E como é possível as ter sem uma finalidade específica? Tudo terá possibilidade de causar transtornos frequentes e também problemas perante a população. Esse tópico já foi tema de diversas abordagens recentes, mas como fazer um pensamento comparativo com a polícia no Brasil e o narcotráfico na Colômbia? A guerra das drogas levou tudo longe demais? É um pouco disso a busca em América Armada.

O documentário acompanha os casos sobre armas em três países: Brasil, Colômbia e México. No primeiro, seguimos a vida de uma ativista de favelas, que faz denúncias sobre abusos policiais que causam a morte de inocentes; no segundo vemos sobre uma mãe que está em busca de descobrir quem foi o culpado pelo assassinato de seu filho, que acabou morrendo pelos conflitos violentos com armas de fogo no país; já no terceiro, a história é sobre um homem em busca de entender o ponto pelo qual aquela sociedade chegou até ali.

O filme de Pedro Asbeg e Alice Lanari divide bem as três narrativas pelo qual a história irá passar para conseguir elucidar o debate público que está fazendo. Acima de tudo, há um claro lado onipresente em como as armas causam um mal-estar de morte em qualquer tipo de ambiente. E isso vai desde o caminho da desiguldade social até disputas políticas, que acabam acarretando em cada vez mais tristeza. Ao sempre buscar muito depoimentos pessoais desses personagens, é claro como a obra tem um olhar para uma certa tristeza inerente. O que o armamento casa é apenas mais tristeza.

Isso poderia realmente representar um ponto de vista curioso e interessante a ser seguido, porém existe quase um trabalho de prosseguimento jornalístico ali. Em América Armada, falta um certo tato de buscar um lado mais sensível ou menos cru que o documentário não busca em nada ter. Ao se tratar de um tema que vai abordar a morte, é complexo buscar tudo dentro de uma abordagem artística super fria. Porém, é desse jeito que tudo é feito. Dessa maneira, o longa parece sempre querer chegar nos mesmos lugares ou olhar para as mesmas questões, quase em um sentido de uma repetição eterna. É possível buscar um lado jornalístico dentro da abordagem, mas isso também perpassa por apresentar não apenas casos isolados, mas o contexto geral, algo que fica muito mais como forma de um público buscar do que propriamente está dentro dos acontecimentos.

Mesmo assim, é interessante esse diálogo de busca do incompreendido. A sequência em que acompanhamos o início de uma operação policial quase assusta tamanha a naturalidade de boa parte dos moradores. Os tiros não são algo forte, mas apenas uma constatação de uma realidade que acontece diariamente. A cena traduz bastante do sentimento que a narrativa está escolhendo buscar, de um medo que se transforma em algo quase comum e banal. O grande problema é como isso acaba nunca sendo traduzido em verdadeiramente um uso da forma cinematográfica.

Os diretores Pedro Asbeg e Alice Lanari tem um olhar bem sensível para explorar uma história do cotidiano da arma de fogo dentro da sociedade contemporânea em América Armada. Porém, a abordagem quase nunca é traduzida no que a obra está buscando por si só. O documentário, então, se perde no que está querendo trazer, quase cogitando transformar essas histórias em um simples apelo que nunca será visto. O lado sensível, da exploração visual, chega a aparecer em alguns momentos, mas parece simplesmente se transformar em um elemento quase superficial desse mundo. Afinal, a busca é o frio ou uma tentativa de recriar a realidade? O filme até tenta, mas não chega em uma coisa, nem em outra.

Comentários

Cláudio Gabriel

É apaixonado por cinema, séries, música, quadrinhos e qualquer elemento da cultura pop que o faça feliz. Seu maior sonho é ver o Senta Aí sendo reconhecido... e acha que isso está mais próximo do que se espera.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *