Crítica – Close

A cena final de Close é uma tentativa de buscar a esperança depois de tanta amargura ressentida. Ao longo das suas 1 hora e 45 minutos, o longa de Lukas Dhont usa o drama como plataforma principal para compreender o autoconhecimento de dois personagens. Um deles, o protagonista dessa narrativa: Léo (Eden Dambrine), um jovem que tem como melhor amigo e confidente Rémi (Gustav De Waele). Os dois são inseparáveis, próximos a ponto da relação deles não parecer apenas amizade para aqueles que olham do exterior. E será que realmente não é? Até que ponto não há apenas um amor fraternal de amigos de verdade? Esses questionamentos surgem como o pontapé inicial para uma trama sobre pertencimento.

Dhont cria um longa um tanto quanto enigmático em seus acontecimentos. As questões mais importantes nunca são verdadeiramente mostradas, sempre subentendidas, quase como uma necessidade de preservação das crianças pela pouca idade. Contudo, eles assemelham isso de toda maneira, e sentem tudo de qualquer forma. A condição, inicialmente bonita, e depois dramatica, da relação entre os dois meninos é o grande chamariz que faz tudo girar. Inicialmente, eles são extremamente próximos, se tocam, gostam da presença um do outro (algo enfatizado pelos closes e gravações muito próximas de som). Em seguida, após comportamentos homofóbicos de alguns outros estudantes começam a se afastar, de uma forma totalmente repentina.

O aspecto do autoconhecimento é fundamental para tentar decifrar mais desses personagens em Close. Apesar de crianças, são seres que possuem um sofrimento inerente a eles. Estaria, dessa forma, o diretor colocando uma trama sobre paixão homossexual na infância? Nada fica realmente não claro, até porque nada acontece. Esse lado sugestivo faz com que Léo seja uma figura que, o tempo inteiro, está divagando se o afastamento é algo certo. É como se ele se visse como um ser fora totalmente do mundo, até do que ele começa a ficar inserido – de uma masculinidade “padronizada”, por assim dizer, em que se fala sobre esportes e conversa sobre mulheres.

O filme trata sempre as relações como seu grande motor, e também como uma forma de tentar quase que acolher eles. Enquanto sofrem tanto, é como a encenação buscasse formas de olhar para esses dois jovens e tentar buscar coisas positivas para eles. Dessa maneira, até o sofrimento se transforma em uma maneira de escape da própria realidade (a sequência do gesso demonstra bem isso). Esse ciclo se sofrimentos em uma vivência que, novamente, apenas na sutileza, parece ser parte quase eterna na vida deles. Independente de assumir ou não uma relação romântica ali, a obra estabelece que existe amor, compaixão. E essa é fundamental para entender jeitos de crescer e se conhecer melhor.

Mas Dhont também transforma sua trama em um tanto quanto enfadonha em certos instantes. Não apenas isso, e também inchada. Sendo assim, dá pouco espaço para respiros e uma maneira de assimilar sobre esse gigantesco sofrimento. Ao mesmo tempo que quer ser gentil, especialmente com Léo, do mesmo modo é uma direção extremamente dura com ele. Não o poupa nem mesmo quando ele admite e tenta compreender os próprios erros. Essa eterna penitência soa como um contraste a sutileza onipresente anteriormente.

Close é bem isso. No fim das contas, igualmente complexo e nunca completo, assim com as formas de tentar entender a si mesmo. Apesar de não conseguir manter o mesmo tom, o filme é completo no que tange a propor uma discussão sobre a desconstrução da masculinidade infantil. Coloca esse tema em pauta e até discute ele, porém sempre sob um viés quase psicológico e religioso, ao fazer seus personagens tentarem buscar a paz ao enfrentar os próprios erros. O maior problema é isso soar, ás vezes, duro demais com crianças.

Esse texto faz parte da nossa cobertura do Festival do Rio 2022

Comentários

Cláudio Gabriel

É apaixonado por cinema, séries, música, quadrinhos e qualquer elemento da cultura pop que o faça feliz. Seu maior sonho é ver o Senta Aí sendo reconhecido... e acha que isso está mais próximo do que se espera.

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