Crítica – Ad Astra
James Gray nunca foi um cineasta extremamente reconhecido pelo grande público do cinema. Apesar disso, seus trabalhos mais recentes tem crescido em termos de produção cinematográfica. Além disso, ele tem sido cada vez mais comentado por cinéfilos e ganhando relevância diante da crítica, algo visto no ainda recente Z: A Cidade Perdida. Em Ad Astra, o diretor de 50 anos vai para seu projeto de maior magnitude, escalonando para o espaço. O que, para muitos, pode até ser uma tentativa de ser gigantesco em termos de efeitos e orçamento, para Gray é a tentativa de usar o gênero de ficção-científica para falar – ainda mais – sobre a existência humana.
A história traz bastante disso: acompanhamos o astronauta Roy McBride (Brad Pitt), que acaba de passar pelo fim de um relacionamento e é extremamente frio e calculista com suas atitudes profissionais. Ele sempre viveu na sombra do pai Clifford (Tommy Lee Jones), desaparecido em uma missão de muito tempo. Roy, após sobreviver à queda de uma estação espacial, é convidado para participar de uma missão em busca dos arquivos coletados por sua figura paterna. E, além disso, descobrir se ele está vivo ou não.
Definitivamente, James usa e abusa do espaço como um ambiente limitador. Ele, gigantesco e sempre retratado através de planos abertos, contrasta o sufoco dos capacetes desses astronautas, quase em um sufoco. Por isso, ele limita a reflexão, o pensamento e gera a exaustidão na solidão. Roy, frio por natureza em tudo, sofre ainda mais nesse lugar. Ele não se vê como parte de nada e realmente acredita estar sendo utilizado dentro dessa missão. Será que ele realmente está? Gray deixa isso em dúvida em diversos momentos, nunca tratando o próprio testemunho do narrador e protagonista como algo totalmente certo. Apesar disso, a história de sua trajetória é tentar encontrar propósito e a busca por viver. Aquela sombra do pai gera uma intensa problemática psicológica para o protagonista.
É possível perceber também essa resolução filosófica na obra pelo ritmo contemplativo colocado na narrativa. Os fatos não tem necessidade de acontecerem em sequências sempre rápidas. Ao mesmo tempo, a ação também não tem uma objetificação constante nesse universo criado. Toda a composição de mise-en-scène dá espaço para esses elementos do mundo realmente aparecerem, contudo sempre em pano de fundo. O interesse verdadeiro por parte de James Gray é nessa transição e composição de vida individual do personagem. Ele, sem nada, pode ganhar dificuldades e vida a sua volta. A busca por simplesmente encontrar razões para continuar existindo o guia, mesmo sem ele realmente colocar isso de frente da sua trajetória.
Nesse quesito, o enredo acaba complexificando todas as cenas por si só. Nada está ali simplesmente para ser uma continuidade, mas sim uma certa forma de penitência na vida de Roy. O momento no qual eles enfrentam um comboio de piratas, por exemplo – remetendo bastante a Mad Max: Estrada da Fúria -, termina com uma composição de importância do personagem principal para outros a sua volta. Esse, sem nunca ter demonstrado isso, parece começar a perceber que o mundo é bem maior e mais complexo. Começa a perceber que, talvez, deva deixar tudo na qual transformou quem ele é hoje para trás.
Ad Astra é um filme que se propõe a falar sobre a jornada de um personagem em busca de entender sua solidão. O espaço, onde estamos totalmente sozinhos em pequenos trajes, traz para ele uma única tranquilidade. Mas e se até esse se torna uma penitência para sua vida? O que realmente fazer? É algo buscado quando Roy percebe a necessidade de entender algo a mais. A busca pelo pai dentro da trama é apenas uma ferramenta para ele buscar a si mesmo. Afinal, Roy também é a própria figura do pai, vivido sempre sobre a sombra do mesmo. E se viramos eternamente sombras, o que nos sobra? Ele, assim como todos, busca entender como conseguir viver e, simplesmente, amar.