Crítica – Colônia (1ª Temporada)

Parte da história do Brasil pode ser contada, além dos presídios, também pelos manicômicos. Esses, espaços para pessoas com alguma doença mental que acabavam, por sua via, também se transformando em espécies de presídios. É nesse espaço que acompanhamos a jovem Elisa (Fernanda Marques). Ela, que acaba sendo obrigada a se casar com um homem quando, na verdade, queria estar com o amor da sua vida, é enviada pelo pai para um hospício. O problema é que, sem nenhum problema, acaba se sentindo em uma grande perseguição, sem ter muito para aonde fugir ou onde ir. Assim, ela segue atrás de conseguir alguma forma de escapar do estranho local, enquanto conhece diferentes realidades.

A criação de André Ristum é Colônia, uma série de 10 episódios para o Canal Brasil. O lado mais curioso disso tudo é acompanhar o desenvolvimento de uma mulher que quer encontrar espaço apenas para ser livre. O grande problema é que ela nunca é possibilitada de realizar isso e por dois aspectos bem específicos: controle e imposição. É através desses detalhes que os manicômicos funcionam, buscando realmente dominar por completo qualquer pessoa que esteja ali. A condição de mulher de Elisa é ainda um aspecto a mais, já que simplesmente a ideia de ser feliz é limada de sua vida – a reconhecendo como louca.

Aliás, esse aspecto é bem interessante, apesar de pouco desenvolvido na produção. A concepção da loucura feminina, como se fosse necessária de ser destruída, ou o simples fato de um prazer ser considerado anormal, também estão entre os aspectos que predominam as mulheres nessa narrativa. Ristum dá um destaque mais aberto para essa discussão, pouco indo mais afundo. Todavia, seu elemento está presente em diversos pequenos gestos (a revista em que se encosta nos seios, por exemplo, ou até mesmo a promessa de retirar desse lugar em troca de uma transa). São elementos claramente objetivos, mas que estão presentes de forma mais forte subjetivamente.

Apesar disso, o grande elemento por parte de Colônia é esse conceito do controle. Ele é um elemento fundamental para desenvolver tudo que acontece ao redor da narrativa. Desde a primeira sequência, em que Elisa é segurada pelo pai e colocada à força em um trem, até a parte que ela simplesmente deixa de ter opinião. Tudo isso está conectado com a maneira que essa sociedade é organizada a ponto de controlar corpos e indivíduos. O fato de estarmos em contato com uma trama que, não aconteceu com essas pessoas, mas realmente ocorreu, causa ainda uma característica mais forte nesse sentido – é livremente inspirado em relatos do livro Holocausto Brasileiro, de Daniela Arbex. Por fim, toda a relação com o militarismo que aparece (devido a ocorrer no período da Ditadura Militar) fortifica ainda mais esse elemento.

Apesar de simples em termos de acontecimentos, o valor dramático presente dentro da produção se encontra dentro de um aspecto muito mais profundo. É como se estivéssemos apenas vendo a superfície da complexidade e compostura que esses personagens possuem. Um dos exemplos claros são as diversas histórias contadas de forma paralela. Por exemplo, uma elogia a comida do manicômio como “a melhor que já comeu na vida”, enquanto a outra ri desdenhada da situação. Nesse diálogo pouco se viu em termos práticos, no entanto são fundamentais para consolidar mais esse universo.

São nesses pequenos elementos que Colônia constrói um verdadeiro horror para dentro da sua narrativa. Com claras inspirações de outras produções do tipo, como Bicho de Sete Cabeças, o seriado se fundamenta em um elemento básico para consolidar um universo de possibilidades e de medo constante. Ao acompanharmos a trajetória completa de Elisa nesse espaço, também nos tornamos parte dele, vivenciando a possibilidade de estar vivo – ou não – no minuto seguinte. Independente disso, vivendo sempre no receio da realidade.

Comentários

Cláudio Gabriel

É apaixonado por cinema, séries, música, quadrinhos e qualquer elemento da cultura pop que o faça feliz. Seu maior sonho é ver o Senta Aí sendo reconhecido... e acha que isso está mais próximo do que se espera.

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