Crítica – Viúva Negra

Um dos principais responsáveis pelo sucesso do Universo Cinematográfico da Marvel foi a escalação de suas estrelas. A união de uma história meticulosamente planejada entre dez filmes e uma reapresentação de heróis que não eram tão conhecidos pelo grande público não teria tido o mesmo efeito se esses personagens não tivessem o carisma e o talento necessário para cativar a audiência. Do elenco original, no entanto, somente Scarlett Johansson e sua Natasha Romanoff não tiveram a chance de travar suas próprias batalhas antes de se juntar aos Vingadores. Somente onze anos depois de sua primeira aparição, a personagem ganha seu momento (e seu adeus) em Viúva Negra

A história se passa em 2016, após os eventos apresentados em Guerra Civil. Os Vingadores que lutaram ao lado de Steve Rogers estão presos por violar o Tratado de Sokóvia, com exceção do próprio Capitão América e de Natasha, que vive como fugitiva. A vida em disfarce na Noruega não dura muito, já que sua “irmã” Yelena Belova a recruta em uma missão diretamente ligada ao passado das duas: libertar as outras Viúvas, que ainda estão sob controle mental do General Dreykov, comandante da Sala Vermelha – a qual Natasha acreditava estar morto. Para reunir as informações necessárias para completar a missão, Natasha e Yelena vão atrás de sua família, enfrentando muitas feridas do passado enquanto tentam criar uma nova vida para si mesmas.

Black Widow': unpublished scene shows Natasha and Yelena in pursuit - Olhar Digital

O filme solo da heroína já era aguardado e pedido pelos fãs da Marvel há muito tempo. Uma década e uma pandemia depois, a expectativa para a aventura de Natasha só havia aumentado após seu fatídico destino em Vingadores: Ultimato. Mesmo sendo uma figura querida pelo público, a espiã apresentava muito pouco além de sensualidade e cenas de ação, algo que não pode ser dito de nenhum de seus colegas de equipe. Apesar de ter seu passado na Sala Vermelha brevemente visitado nos filmes de Joss Whedon (e ainda assim, de maneira muito questionável), a personalidade de Natasha Romanoff ainda era um mistério com poucos momentos de vulnerabilidade e honestidade. Quando apareciam, as características eram moldadas de acordo com o filme que estava e a história sendo contada. Anterior a essa produção analisada aqui, talvez Ultimato seja aquele que traz a versão mais crua e interessante da personagem.

Dito isso, estava claro que o trabalho da diretora Cate Shortland não seria fácil. Responsável por longas voltados para o drama e para o thriller, a australiana (que é a primeira diretora a comandar um filme do estúdio sozinha, já que Capitã Marvel é uma produção comandada pelo casal Ryan Boden e Anna Fleck) tinha a responsabilidade de não só trazer mais um evento da Marvel Studios, com direito a todo o seu espetáculo de efeitos especiais e grandes cenas de ação muito bem coreografadas, mas também entregar a nuance e o protagonismo de uma personagem que já disse adeus.

Voltar ao passado era a única forma de completar uma dessas missões. O roteiro faz um bom trabalho ao construir uma narrativa que, mesmo sendo ágil, ainda possui seus temas bem demarcados, sempre sendo discutidos em tela: solidão, sobrevivência, trauma e libertação. A relação de Natasha com Yelena é o principal mérito por isso. É ao lado dela que Natasha revela seu lado mais vulnerável e seu lado mais duro, aquele que gostaria de esconder e que a assombra até hoje. O fato da dupla também protagonizar a cena de luta mais diferente do longa também explicita como houve um equilíbrio bacana entre a ação e a tentativa de um desenvolvimento de personagem. Tentativa, porque apesar desses sentimentos estarem presentes em todo o filme, nunca há um aprofundamento sobre eles.

Conforme os minutos avançam, o que persiste é a superficialidade. A relação entre Natasha, Yelena, Alexei e Melina é um exemplo disso: os quatro atores demonstram um bom entrosamento, porém o pilar familiar dos quatro, essencial para o desenvolvimento da trama e da protagonista, não é consistente como o de Pugh e de Johansson. O último ato é a cereja no topo do bolo. Um dos elementos mais importantes da mega produção e uma peça importante para que Natasha confronte seu passado e a si mesma são deixados para os últimos minutos. Todo o equilíbrio que foi visto na primeira parte se perde nesses últimos momentos, pois há toda a construção para um momento catártico que simplesmente não vem.

Viúva Negra / Black Widow (2021) - Horários das sessões - filmSPOT

No fim das contas, algumas missões foram cumpridas e algumas não. O espetáculo costumeiro está aqui: a audiência nunca fica entediada e há sempre algo acontecendo, seja uma luta ou uma conversa franca entre espiões russos com muita bagagem emocional. Se David Harbour e Rachel Weisz entregam performances divertidas e menores do que se esperava, Florence Pugh brilha, construindo uma personagem que certamente tem tanto potencial (e mais chances de atingi-lo) quanto Natasha. O que nos faz novamente pensar no desperdício que é Scarlett Johansson, que já cansou de provar sua versatilidade e talento, dizer adeus a uma personagem tão marcante quanto sua Viúva Negra de maneira tão pouco pessoal.

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