Crítica – Atiraram no Pianista

Logo em seus primeiros momentos, Atiraram no Pianista demonstra diretamente suas intenções. Uma animação esquisita, que brinca com os tons realistas e surrealistas, em meio a uma história que, no fundo, busca retratar o poder da música. Isso tudo através de um olhar que quer retratar a importância da bossa nova para a construção de uma sociedade cultural. No entanto, o filme é dirigido por dois estrangeiros: Fernando Trueba e Javier Mariscal. Isso dá o tom que o longa busca, mas nunca verdadeiramente consegue. Ao querer ser passional diante do seu público, ele se torna apenas distante. Ao buscar ser uma grande homenagem para um nome da música brasileiro, vira confuso.

A animação/documentário começa por um jornalista fictício. Ele que, apaixonado por música brasileira, resolve fazer um livro especificamente sobre a relação entre o jazz e a bossa nova através de diversos nomes. Contudo, um deles acaba se sobressaindo. É do músico Tenório Júnior, pianista de extremo sucesso nos anos 1960 e 70. Ele vai tocar com Vinicius de Moraes em uma turnê na Argentina no ano de 1976 e acaba desaparecendo e nunca mais sendo visto. Se a parte do livro é uma grande farsa, toda a trama por detrás do músico é verdadeira.

Cena do filme Atiraram no Pianista

Mariscal e Trueba dão menos um olhar dramático dessa história – que se constrói sempre por um mistério e misticismo em torno dessa figura -, e mais documental. Ou seja, é como se estivesse atrás de algo tão profundo que nunca é verdadeiramente aprofundado. Apesar disso, Atiraram no Pianista se ganha na própria musicalidade, como quase um filme sendo tocado. A montagem consegue reverberar esse papel em assumir a grande brincadeira da encenação. Não à toa, traz repetições de ideias e momentos. As aparições constantes de Cravo Albin são um exemplo bem claro disso.

Porém, mesmo dentro desses conceitos, soa como a produção estivesse meio travada. Ao querer buscar a narrativa meio investigativa (que tem seus bons momentos, como quando Ferreira Goulart aparece), até se consegue gerar um efeito de curiosidade para saber em que local irá chegar e, de fato, o que aconteceu com o pianista. O problema é que tudo parece ser sempre frustrante, como se não tivesse mais muito material para trabalhar além da tensão mais às claras. Ou seja, é gerada uma mega especulação sem um fundo.

Cena do filme Atiraram no Pianista

Mas, como dito antes, Atiraram no Pianista sabe usar o público como ferramenta particular. As aparições de artistas conhecidos e até certas memórias de períodos históricos, constroem uma espécie de abraço fraterno. Ele até funciona em algum sentido, mas depois de 20 minutos já se torna em cansativo. No fim, parece apenas um samba de uma nota só.

Essa crítica faz parte da cobertura do Senta Aí do Festival do Rio 2023

Comentários

Cláudio Gabriel

É apaixonado por cinema, séries, música, quadrinhos e qualquer elemento da cultura pop que o faça feliz. Seu maior sonho é ver o Senta Aí sendo reconhecido... e acha que isso está mais próximo do que se espera.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *