Crítica – Daisy Jones and The Six (Primeira Temporada)
Entre 1997 e 2014, o canal de televisão por assinatura focado apenas em música, o VH1, fez uma série de documentários chamado Behind The Music. Se tratavam de uma buca por contar a trajetória, sucessos e fracassos de grandes bandas e artistas da história da música pop. Entre alguns dos temas, estão 50 Cent, Journey, The Police, Metallica e mais. Havia um formato bem fixo e que ficou reconhecido como o formato de documentários da VH1 ao longo dos anos, ao mostrar algum integrante de uma banda, por exemplo, falando de um acontecimento marcante e com imagens sendo mostradas sobre um voice over.
Outro grupo presente foi os roqueiros do Fleetwood Mac. No caso, em sua versão real. Já no seu lado ficcional, Daisy Jones and The Six. O grupo – e também série – tem sua trajetória contada, sob altos e baixos, da mesma maneira que qualquer outra no Behind The Music. Desses depoimentos, ora traumáticos para alguns integrantes, ora de realizações, a produção constrói uma narrativa para tentarmos entender quem são eles, como se reuniram e por qual motivo, depois de 20 anos de um grande ápice, a banda não existe mais.
É até meio curioso o apelo que o seriado do Prime Video tem com um público mais jovem, justamente pelo livro que originou a adpatação, escrito por Taylor Jenkins Reid em um formato bem mais romanceado. A versão televisiva, feita por Michael H. Weber e Scott Neustadter tem uma visão bem clara de se transformar em um produto sobre duelo de versões. Por isso, faz tanto sentido a construção desse documentário fake inicial ser extremamente similar ao da VH1: é como se estivéssemos vendo essa versão ficcional, assim como também é uma dramatização do Fleetwood Mac (ou seja, os romances e confusões da mesma forma). Na realidade, o maior acerto é justamente a produção não ter medo se demonstrar como algo que claramente soa muitas outras.
Desse jeito, ao longo dos dez episódios que compõem a temporada, vemos a construção de personalidades, trejeitos e, ao mesmo tempo, de uma compreensão da música americana nos anos 1970. Ao trazer muitos elementos reais, é como se o seriado buscasse transportar o público como parte integrante dessa realidade. Se, em certos instantes, há uma tentativa de consolidar informações em excesso, perdendo a graça de nunca sabermos certos lados, em outros a sutileza reina para fortalecer a tensão e curiosidade de noticiário dos famosos (novamente, algo sempre presente em Behind The Music).
Fica bem claro, assim, porque os primeiros episódios fazem Daisy Jones and The Six ser uma série tão curiosa de se assistir. Certos problemas internos, problmeáticas, confrontos e, até mesmo, ideias, ficam expostas dentro das falas dos integrantes, porém que nunca sabemos a realidade disso tudo. Mais uma vez, é a guerra de versões que aparece, com culpabilizações diversas, e sem nenhuma respostas. Com o passar dos capítulos, é quase como se o público se transformasse no próprio documentarista e devesse, de algum modo, trazer respostas, encontrar soluções. Por que eles se separaram, afinal? Como estão hoje? Deveriam estar juntos? As perguntas aparecem, só que estão sempre sob algum viés.
Daisy Jones and The Six não deixa de ser um seriado interessante, mesmo se importando com alguns caminhos menores da própria narrativa. A graça é o como, é a busca por montar o quebra-cabeça colocado em nossa frente. Retomando o falado no início do texto, podemos assim ver uma discrepância entre ela e Behind The Music. Isso porque, nessa segunda, apesar dos conflitos, a veracidade busca sempre tomar forma. Aqui, quanto mais confuso melhor, quanto menos resoluções mais sentido tudo faz. A trajetória e o entendimento sobre o sucesso de uma banda de ficção é o que faz tudo ficar melhor. É o que a deixa a estrada tão deliciosa de se andar.