Crítica – Good Night Oppy
Documentários são histórias humanas. Independente da construção de lados, verdades, mentiras, eles são, no fundo, dramatizações ou especulações sobre personalidades, histórias e conquistas. Mas também podem ser espetacularizações e perspectivas sobre seres que não humanos. Como no caso de animais – tema recorrentes de filmes do tipo – ou até mesmo seres inanimados. É com essa base que o cineasta Ryan White vai estudar o antromorfismo em torno do Opportunity. Ele foi um robô espacial construído pela Nasa para ir até Marte fazer explorações por 90 dias junto com outro robô, o Spirit. Contudo, durou mais de 15 anos no planeta vermelho e se transformou em um marco científico.
Good Night Oppy tem tudo para ser um longa com a cara de uma espécie de “doc History”, ou seja, focando apenas no lado científico dessa história. Porém, a gigantesca lista de filmagens de arquivos do momento do envio da sonda com os dois veículos, até a chegada deles na órbita e todo o dia a dia da missão, o transformam em algo bem mais sensitivo do que parece. A própria forma como White coloca a produção em uma mescla de uma animação dos robôs no solo marciano, com uma narração de um diário de bordo (feita por Angela Bassett), junta o telespectador como parte dessa jornada.
O filme acerta, aliás, ao gerar uma amplitude dos acontecimentos, sejam eles bons ou ruins. E isso está desde as próprias filmagens e essa tela artificial, até mesmo com as entrevistas, sobretudo as que se concentram em espaços abertos. Com eco, elas aumentam tensões e constroem sentimentos com esses protagonistas da história. O apelo a um certo sentimentalismo em todas as partes – desde a música ao acordar, sempre com uma relação com o momento, até mesmo a forma apaixonada como os cientistas falam da construção deles – é uma maneira também de gerar essa sensação de empatia.
Esses “seres” ganham vida não apenas física, mas também psicológica, já que perpassam de um quesito mais acadêmico, pelo qual a trama poderia se arraigar. Diferente disso, Good Night Oppy é mais preocupado com os efeitos e possibilidades para o futuro que o trabalhos deles fez. E aqui não em um aspecto humano, com os cientistas, e sim pelo lado realmente dos seres inanimados, capazes de darem tanto para a Terra e para o conhecimento sem nada em troca. Dessa forma, o diretor sabe como colocar o público como um ser alinhado com essa humanidade presente em um robô.
Good Night Oppy teria motivos de sobra para focar em um lado bem mais científico da sua narrativa. A encenação, todavia, está alinhada com uma importância emocional que um ser é capaz de construir com seres humanos. A admiração e afeto, demonstradas nas entrevistas, também está presente no público no momento que entedemos os motivos deles irem até Marte. Aliás, é interessante perceber como o filme ganha muito mais nas imagens que demonstram de maneira bem clara a relação entre os robôs e os seus construtores, do que quando coloca isso diretamente da boca deles, por entrevistas. O lado sensitivo do documentário de Ryan White é justamente buscar um afeto onde nunca se esperou.
Esse texto faz parte da nossa cobertura do Festival do Rio 2022