Crítica – Limiar
A sinopse de Limiar, filme turco e armênio dirigido por Rouzbeh Akhbari e Felix Kalmenson, é exatamente a seguinte: “Um cineasta armênio procura locações para o seu próximo projeto, que busca retratar as raízes ancestrais de seu país. Em uma mistura de ficção com imagens quase documentais, o realizador encontra pessoas ao longo da viagem. As complexas realidades geopolíticas que impactam a região também chamam a atenção do diretor, em uma narrativa que caminha entre o mundano e o transcendental”.
A ideia de um diretor gravar a própria busca por um filme é algo muito instigante, e já deu resultado muito bons, especialmente nas mãos de documentaristas como Eduardo Coutinho, que teve como ponto de partida para uma de suas obras primas. Em O Fim e o Príncipio, justamente esse norte, que é tão libertador quanto intimidador, rende umas boas entrevistas nas mãos do falecido mestre.
Mas claro, Limiar não é um filme de Coutinho, e está muito longe de ter o foco nas pessoas que marcava o cinema deste. Rouzbeh e Felix estão profundamente interessados em lugares, e a câmera da dupla paira sobre arquiteturas e espaços, com composições muito cuidadosas. As interações humanas são esparsas, mas aqui e ali acontecem. O protagonista entra em uma sala e fala com uma mulher, dizendo que está procurando por uma janela para o universo. Ele a encara e diz que encontrou, assim como outras interações enigmáticas ocorrem ao longo do filme.
Em um nível puramente estético, é um longa “bonito”. De certa forma, parece o tipo de produção que uma loja de eletrodomésticos passaria em uma das TV’s para mostrar a capacidade do aparelho, só que com cores bem menos vibrantes. E é isso que pode ser dito de positivo sobre a experiência de assistir Limiar, porque de resto não há muito ali.
Parte disso vem da postura um tanto distanciada que a dupla de diretores aposta para a sua narrativa. Assim, a impressão que fica é que a preocupação é mais em construir uma “bela imagem” do que em uma aproximação com aqueles espaços. Não soa como investigação, uma busca. O máximo que vemos – a distância – é um personagem timidamente olhando ao redor por um tempo, até decidir voltar para o carro e seguir procurando.
Uma tentativa até existe de buscar imprimir um significado mais profundo na sequência de imagens que compõem o filme. Em certo momento, um dos personagens encontra uma maçã partida no chão e a encara longamente em suas mãos, dentro de algumas ruínas. Próximo do fim, o protagonista passa a ter pesadelos com fumaças saindo das ruínas, o que faz com que ele acorde assustado. É evidente que esse está buscando algo para dizer sobre a história daquele lugar.
Ao final de Limiar, a impressão que fica é que é uma obra extremamente específica sobre a experiência armênia e para pessoas de fora, acaba sendo um tanto obtuso em sua narrativa. O longa se encerra com pessoas perdidas em um nevoeiro, enquanto tiros ecoam pelas colinas. Uma cena interessante, mas que parece tão perdida quanto o que já vimos anteriormente.