Crítica – Locke & Key

Locke & Key existe muito antes da Netflix, na série de quadrinhos iniciada em 2008 realizada por Joe Hill e Gabriel Rodriguez, mas a adaptação que chegou às plataformas soa como uma produção típica da empresa. Crianças/jovens se deparam com forças além da compreensão e precisam se unir para combatê-la, é a fórmula oitentista que deu certo com Stranger Things, que agora é replicada na nova série, mas sem se basear na nostalgia da primeira, e com a fantasia no lugar da ficção científica.

E essa fantasia é muito bem construída, a nossa entrada a este mundo é feita por meio dela, com uma bela abertura em 2D e uma trilha sonora que remete aos primeiros filmes da saga Harry Potter. Durante a série esse bom trabalho com o fantástico continua, já que sempre há uma relação de encantamento e assombro com as descobertas da funcionalidade de cada chave, especialmente através da experimentação de algumas delas.

Mas Locke & Key não é só fantasia, já que a base da história é algo bem real: O trauma. A série se inicia com a família Locke, composta por Bode (Jackson Robert Scot), Kinsey ( Emilia Jones), Tyler (Connor Jesup) e a mãe Nina (Darby Stanchfield), se mudando para a cidade de Matheson, após o pai da família Rendell Lock (Bill Heck) ter sido brutalmente assassinado. Buscando um novo começo, eles se mudam para Keyhouse, a ancestral casa da família Locke. Lá, Bode, o mais novo, passa a encontrar diversas chaves de incrivel poder, uma permite que você possa para se deslocar para qualquer lugar do mundo, enquanto outra faz com que você possa entrar na mente dos outros. As chaves, no entanto, são objeto de cobiça de Echo (Laysla de Oliveira), um ser que possui uma história íntima com a família e cidade. Assim, o trio de irmãos irão lutar contra forças sobrenaturais, enquanto encaram o luto.

Ou pelo menos, essa é a ideia. Quando o primeiro trailer da série foi revelado, era visível que certos aspectos do quadrinho, como a violência, foram eliminados. O que não significa que a série tenha sido totalmente “sanitizada”, já que alguns aspectos mais sombrios da trama foram para as telas, especialmente no campo psicológico, como a culpa que Tyler carrega pela morte de seu pai. O problema é o modo como essas questões são utilizadas, como óbvios gatilhos para que a história possa ter prosseguimento, pura e simplesmente. Para dar um exemplo, sem muito spoiler, certa personagem revive um vício com o qual lutava há muito tempo, mas assim que o seu vício permite que o próximo ponto de trama se revele, ele é curado como mágica. Outros personagens passam por situações similares, assim, não há um desenvolvimento de personagens, mas sim cenários que eles passam para avançar a trama.

Não ajuda muito o fato desses personagens serem um tanto sem graça, não chegam a ser ruins, mas, voltando a comparação com Stranger Things, não é tão divertido acompanhar esses jovens quanto as crianças de Hawkins. O pior caso, no entanto, é Echo, que muito mal mostra a que veio e é uma das vilãs menos ameaçadores que me tenho memória. Por diversas vezes ela aparece, ameaça algum personagem e simplesmente…desaparece. Isso se repete por diversos episódios, e somente na conclusão dessa temporada ela passa a representar algum tipo de ameaça. Seus objetivos também são muito mal definidos, resultando em uma ameaça que pouco convence.

Assim, Locke & Key é uma série dividida. O seu lado mais “infantil” é bem realizado, e as chaves são mecanismos bem interessantes a serem explorados, mas, e talvez até pelo medo de alienar o público mais interessado em coisas “leves”, os aspectos mais sombrios da história são rasos. Nessa indecisão, sofre a série, que acaba ficando genérica e perdida no mar do streaming.

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