Crítica – Os Jovens Baumann

No ano de 1992, os jovens primos Jota, Ana Paula, Caio, Fred, Tito, Bia, Debby e Isadora curtem as férias na fazenda da família Baumann, no sul de Minas Gerais. A grande questão envolvendo eles é que todos desapareçam e nenhum registro foi encontrado. O caso foi encerrado pela polícia no mesmo ano de 92, devido, como a própria narração de Os Jovens Baumann diz, “situações mais importantes do período”. A única evidência na qual se tinham para buscar algo eram fitas VHS gravadas na época por Isadora Baumann. A diretora Bruna Carvalho de Almeida busca, então, olhar para esse passado remoto e buscar não necessariamente respostas. Mas sim, observar esses fantasmas presentes ainda.

Bruna inicia com um interesse olhar de deixar as fitas falarem por elas mesmas. A visão bastante documental, mesmo se tratando de uma ficção, não traz respostas em momento nenhum. Há até um certo receio em relação a isso. O objetivo é claramente uma investigação sobre essas figuras e as possibilidades em sua volta. Os únicos períodos sem as exposições dos vídeos de Isadora é quando a cineasta, em seu trabalho de estreia, faz imagens de lugares próximos e, com o uso do voice-over, contempla possibilidades, além de explicar a história. É uma atitude de trazer um lado mais narrativo também de colocar a atenção da audiência. Além disso, suas pequenas exposições, jogam ainda um clima de tensão colaboradores com a estética de found footage.

Nesse sentindo, a obra olha bastante para esse lado fantasmagórico do espaço aqui. As ambientações – até mesmo nas filmagens VHS – são realiadas em um olhar aberto para todas as situações, quase como uma despedida dado o olhar de Almeida. Quando as vemos na atualidade, tudo parece ultrapassado, porém a memória desses jovens desaparecidos ainda resgata algo incomodo para toda essa encenação. É como se estivesse sendo filmado em um ambiente pesado e a crueza de como é tudo colocado em tela apenas ressalta isso.

Apesar disso, em alguns instantes parecemos estar diante de uma obra inacapada. Faz sentido por toda a relação com o passado e do iminente fim das gravações nas fitas, contudo essa questão parece mal finalizada na narrativa do longa. Dependendo alguma ida para um lado mais dramático ou até mesmo assumindo uma dinâmica de gênero, todavia muitas vezes estamos impassivos com os acontecimentos e tudo mostrado. Ainda mais por tratar-se de uma história criada, talvez um olhar mais dinamizado para esses figuras fizesse ainda mais sentido. Entretanto, somos confrontrados apenas com o passado e não as possibilidades do futuro.

Em relação a questão dos próprios gêneros, é um filme necessariamente perdido. Faz sentido como não ocorre uma dinâmica interna ou até quaisquer desenvolvimento maior para algum caminho. Em alguns períodos somos postos com uma comédia e até nos vemos nas relações desses jovens, ainda ‘deslumbrados’ com a vida. Outros já servem mais para expor uma falta ali, até em termos de discussões entre eles. Isso acaba sendo catapultado pela sequência próximo ao final, na qual uma pitada de horror é apresentada no meio da noite. O fato de ali não terem respostas, é jogada bem para a reação do público em buscar suas próprias maneiras de entender isso.

Os Jovens Baumann é talvez uma das produções mais diferentes em termos de formato no Brasil. Sua experimentação estética, entre o documental e o dramático, funcion para criar uma narrativa bem singular, ficando em sensações. As perguntas – ainda mais para os que não sabiam sobre toda a história – ficam bem diretamente conectadas com a vontade de entender mais. Apesar disso, Bruna Carvalho de Almeida não busca ir a frente nesse sentido. Sua verdadeira intenção é olhar para trás e entender ainda mais. É olhar para esse passado fincado nas imagens e tentar decifrar algo, olhando na atualidade. Nesse sentido, sua obra surge como uma grande homenagem. Uma homenagem para fantasmas esquecidos, verdadeiros ou não.

Comentários

Cláudio Gabriel

É apaixonado por cinema, séries, música, quadrinhos e qualquer elemento da cultura pop que o faça feliz. Seu maior sonho é ver o Senta Aí sendo reconhecido... e acha que isso está mais próximo do que se espera.

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