Crítica – Pacificador (Primeira Temporada)
Quando o personagem Pacificador (John Cena) apareceu em cena no O Esquadrão Suicida, um misto de reações do público veio. Por parte, alguns adoraram os trejeitos que o ator criou para ele, especialmente na forma de lidar com outros integrantes da equipe. Ao mesmo tempo, também veio uma crítica pela forma mais escrachada de humor, e bem literal, que o personagem possui. Contudo, é fato que ficou como um dos mais marcados do longa de 2021, dirigido por James Gunn. O mesmo, então, teve a ideia de lançar um projeto de uma série de TV separada para apenas esse protagonista. Veio, assim, Pacificador.
De certa forma, fica bem claro como Gunn parecia ter mais na cabeça o conceito da produção propriamente, do que realmente como tudo aconteceria. Nesse sentido, diversas ideias são recicladas do filme, como os vilões – bem genéricos -, por exemplo. Ao mesmo tempo, o que faz do seriado ter algo a trabalhar é justamente um maior aprofundamento de quem é essa persona e, junto disso, uma expansão, a partir dele, de todo um universo da DC, que parecia meio perdido. É quase como se estivéssemos compreendendo do 0 todo esse ambiente. E o diretor (e criador dos oito episódios) gosta de ser um conduto para essa trama se desenrolar.
Mas afinal, qual a história? Acompanhamos a trajetória do Pacificador, logo após sair do hospital em decorrência dos eventos de O Esquadrão Suicida. Ele não se vê sendo perseguido por policiais e vai para a casa normalmente. No entanto, é recrutado para uma missão de um grupo comandado novamente por Amanda Waller e precisa ajudar a derrotar uma espécie de borboleta que entra na cabeça dos humanos e tem o objetivo de dominar o mundo. Eles já estão infiltrados na política e querem chegar para todos os lugares aos poucos. No entanto, junto de uma equipe, o herói (ou vilão) tem objetivo de evitar essa catástrofe.
Em Pacificador, a direção traz ainda mais elementos que corroboram uma mistura de perspectivas do personagem. Ao mesmo tempo que ele tem atitudes deploráveis e um posicionamento meio conservador (no trato com as mulheres, por exemplo), é também uma figura que tem busca o bem de alguma forma. E Gunn coloca justamente o pai do protagonista como seu contraponto “moral”. Auggie Smith (Robert Patrick) é, ao mesmo tempo, um problema no presente e no passado, especialmente em uma complexa relação que teve com os dois filhos, em que um acaba morrendo. É quase como se o pai fosse uma figura catalizadora, capaz de externar todo o mal e acabou caindo para o Pacificador, mas que não busca mais isso em sua vida – até por isso mesmo nome.
Nessas sugestões mais moralizantes, que funcionam muito através das piadas, que James Gunn tenta consolidar um universo incapaz de ter heróis. Uma aparição final especial demonstra bem todos esses elementos, já trabalhados anteriormente, e que parecem só fazer sentido dentro de um mundo corrupto. E não por corrupção como entendemos, e sim naquela em que o bem parece não ter vez. É justamente o mal que ganha espaço. Em uma discussão tão simplista, e até meio infantil, o diretor consegue extrair um desenvolvimento dramático capaz de transformar o personagem principal em alguém que parece, no fim das contas, ter algo bom a acrescentar. A relação de amizade que vai sendo construída como equipe é o ponto chave para entendimento disso.
Com todas essas questões na mesa, Pacificador consegue ser uma série que expressa complexidade perante seu herói. Ele pode ser a figura que for, só que sempre todo esse passado e como ele será visto no futuro, são fundamentais para compreensão de alguém inteiramente quebrado por dentro. Ele, em si mesmo, pode ser contraditório, mas faz parte apenas de um mundo em que todos são, em que todos tem algo a esconder (vide todos os membros da equipe) e que nada é verdadeiramente real. Nesse discurso, James Gunn demonstra as possibilidades que os próprios heróis e vilões possuem em seus mundos e que eles podem até mesmo rir da própria desgraça.