Crítica – Salvação

Filme participante do Festival Fantaspoa Online 2020. Para saber mais, veja aqui.

Seitas estão novamente em moda no cinema, com os filmes de Ari Aster os colocando no centro de seus dois filmes (Hereditário e Midsommar) e até mesmo Quentin Tarantino se baseando explicitamente na seita de Charles Manson em Era Uma Vez em…Hollywood para reescrever a história de um dos atos mais famosos do grupo. Assim, Salvaçãoé o cinema sul coreano embarcando na temática, com doses de filme policial no meio.

O longa, o primeiro do diretor Lee Chang Moo, acompanha o detetive Seok Jae (Kim Daigun) enquanto investiga o assassinato de uma prostituta nas margens do rio da cidade. Seus colegas estão prontos para colocar o caso como um suicídio, mas Seok tem motivos menos nobres com a investigação, já que um cafetão local afirma que a morta roubou dinheiro dele, e recrutou o detetive para ajudá-lo a achar o montante. Ao sair da cidade em busca de uma pista, o personagem sofre um grave acidente de carro, que o deixa inconsciente, sendo resgatado por uma garçonete que o conhece, Chun-Ja (Cho Sung-hee), e é levado para um prédio próximo. Ao acordar, Seok percebe que o estabelecimento é a base de uma seita, liderada pelo carismático Diretor Ban (Lee Sang In), que promete salvação eterna para os seus membros.

Salvação tem um início muito interessante, que parece apontar mais sobre o descaso que a polícia tem com pessoas que não consideram “dignas” e da misoginia presente na corporação, já que na primeira cena que Chun – Ja aparece, ela é frequentemente assediada física e verbalmente pelos colegas de Seok. Mas, com a chegada do culto, percebe-se que a misoginia em cena não é uma crítica, mas sim algo presente no filme como um todo. Das poucas personagens femininas do filme, praticamente todas são assediadas, agredidas ou são meros instrumentos para a condenação ou salvação (daí o título) de personagens masculinos.

Além da misoginia bem aparente, pouco se redime na produção sul coreana. Qualquer um que tenha o mínimo de conhecimento sobre história de seitas e cultos famosos, como Jonestown, por exemplo, vai imaginar o que é essa salvação prometida pelo diretor, um fraquíssimo antagonista cujas intenções com aquela organização nunca fazem sentido. É dito que ele deseja ganhar dinheiro com aquilo tudo, mas nunca nos é explicado como. É como se os roteiristas simplesmente jogasse coisas na história na esperança que algo se formasse. Uma revelação importante sobre o passado do protagonista ocorre em uma cena simplesmente para não ter nenhum impacto no que vem a seguir.

Em termos mais diretos, Salvação é vazio. Seus temas de culpa e redenção não fazem muito sentido porque, até a cena que citei previamente, não há nada indicando que Seok esteja escondendo algo que pese em sua consciência. Não há muita graça em acompanhar uma jornada de redenção se nem ao menos se entende quem ou o que está sendo redimido. Não há suspense sobre as intenções do culto, não há um mínimo de tensão. É um arremedo de história acompanha de uma linguagem visual pobre – a cena do acidente é filmada de modo tão desinteressado que nem parece algo tão grave. Com perdão ao trocadilho, nada salva Salvação.

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