Crítica – Segredos nas Paredes
Todo mundo gosta de um bom plot twist, uma narrativa que consegue construir algo que subverte as expectativas e muda completamente a visão que se tinha dos elementos prévios a essa “virada” é sempre interessante. Entretanto, muitos se esquecem da parte de “construir” essa mudança, e acabam achando que qualquer mudança brusca na história basta para criar uma boa experiência. Cinema pode ter seus momentos mágicos, mas não adianta tirar um coelho da cartola e achar que isso basta.
Segredos nas Paredes é exatamente esse tipo de filme, que se apoia inteiramente em suas surpresas que não são assim tão surpreendentes, esquecendo de fazer essas transformações terem o mínimo de impacto ou graça. Segue apostando também na quantidade delas na esperança de que isso ajudará em algo. Seguindo com a comparação anterior, é como se um mágico decidisse tirar vários coelhos na cartola, desesperado por aplausos.
O longa tailandês acompanha dois irmãos, o portador de deficiência Putt (Nattapat Nimjirawat) e a popular Pim (Sutatta Udomsilp), filhos da mãe solteira Mai (Nichole Theriault). Os três vivem suas vidas normalmente até que Mai sofre um acidente de carro, colocando-a em coma com baixas possibilidades de retorno. Subitamente, um homem se apresenta como avô dos dois, Phong (Sompob Benjathikul), e os leva para morar na casa dele, onde conhecem a avó, Wan (Tarika Tidatith). A situação fica ainda mais estranha com a presença de um buraco na parede da sala na casa dos avós que só os irmãos conseguem ver, e dentro dele, uma cena se repete: a de uma criança morrendo.
Além disso, há ainda outras subtramas, como a chantagem sofrida pelos irmãos de um colega que ameaça espalhar um vídeo de Pim pela escola e a de Phong em busca do verdadeiro culpado pelo acidente de Mai. A de Phong até encontra certo espelhamento temático com a trama principal, mas a da chantagem existe unicamente para a famosa “encheção de linguiça”, começando do nada e indo a lugar algum, existindo em completo isolamento dos eventos envolvendo a casa e o misterioso buraco.
Mas Segredos nas Paredes também não faz muita coisa com essa trama principal, com situações que se repetem diversas vezes e encenadas da mesma maneira. Dizem que explicar uma piada é o mesmo que matá-la, e o mesmo vale para o terror, especialmente nessa produção, onde muitas cenas são compostas de um dos irmãos vendo algo pelo buraco e logo em seguida explicando o que viu para o outro. Visões essas que também não são lá muito inventivas, com a menininha fantasmagórica morrendo ou vomitando sangue ou morrendo enquanto vomita.
Essa tendência de explicar tudo é particularmente agravante no clímax emocional do filme, constituída inteiramente dos personagens num círculo despejando informações um para o outro, com flashbacks de cenas vistas a poucos momentos atrás. É possível fazer diálogos interessantes, muitos filmes se apoiam inteiramente nisso, mas colocar atores em um círculo com a câmera simplesmente navegando entre um close e outro, não é uma dessas maneiras.
Assim, Segredos nas Paredes varia entre o tedioso e o cansativo. Tedioso pois se contenta em reciclar situações até o final, e cansativo porque, quando o fim chega, ele não se cansa de despejar informações e “surpresas” até o último minuto, sem saber quando acabar, para a infelicidade de quem assiste.